Liberdade de expressão

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1 A Venezuela é aquele país em que, uma vez por semana, o Presidente veste a sua camisa de propaganda, vermelha, e inflige, e aflige, os compatriotas com uma injecção de conversa que todas as televisões e rádios estão obrigadas a transmitir. À semelhança do que acontecia com Fidel Castro em Cuba, sabe-se quando Hugo Chávez começa mas nunca se sabe quando acaba.
Nessa Venezuela, líder de uma grave ameaça à paz na América Latina (vide o apoio aos terroristas das FARC, internacionalmente reconhecidos como tal), Chávez acaba de fechar 34 rádios e prepara uma lei (a Lei de Delitos Mediáticos!!!) que lhe permite deter os jornalistas de forma arbitrária. Diz o documento, a aprovar até final do ano, que essas penas, de quatro a seis anos de prisão, podem ser aplicadas a todos aqueles que "difundam informações contra a estabilidade do Estado, a paz social, a saúde mental ou a moral pública". Com um texto desses, como é bom de ver, pode deter-se um jornalista tanto com base numa errada previsão meteorológica como numa análise a um jogo de futebol que não agrade ao clube do Presidente…
Ou seja, começa a ser claro para onde corre a Venezuela, agora que o ataque descarado à liberdade de expressão está em marcha. Mas o mais perverso é que Chávez faz caminho para a ditadura cumprindo as regras da democracia. Ele promove eleições, as que forem precisas, para impor o seu poder pessoal. As leis venezuelanas correm todos os mecanismos do Estado. Já não é hoje inteiramente verdade que a democracia seja sempre inimiga dos tiranos. Mas pode continuar a dizer-se que todos os títeres, ou pobres candidatos a isso, começam sempre por combater a liberdade de expressão.

 2 Manuela Ferreira Leite "fechou" as listas de deputados do PSD a todos os que lhe faziam oposição a partir de dentro. E também terá dito "não" às quotas que alguns baronetes do partido estavam habituados a gerir entre os seus fiéis. Dessa forma, ficaram de fora Pedro Passos Coelho, Miguel Relvas, mas sobretudo muitos afilhados políticos de outros, que estavam habituados a poderem premiar dedicações e seguir fazendo uso delas…
Deve dizer-se que MFL faz bem (como fez Marques Mendes quando expulsou Isaltino e Valentim, lembram-se?).
Em relação a Pedro Passos Coelho, é óbvio que ele ultrapassou há muito a fase das divergências que fazia sentido explicitar. Em todos os momentos, em todas as situações, se tem procurado posicionar como alternativa à liderança, parecendo sempre pouco interessado em ajudar a criar as condições para que a actual se afirme. Isso é inaceitável num partido, sobretudo quando as eleições estão à porta.
Num PSD habituado a alimentar egos e tendências, ela introduziu a simples regra da solidariedade política. Pelos vistos, percebeu o essencial: a guerra em curso é pela confiança dos eleitores, não é pelos humores da classe política. É que uns falam, e só conspiram. Os outros votam, e decidem.

A nota da Presidência da República sobre a não recondução de João Lobo Antunes no Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida demonstra que as relações entre Cavaco Silva e José Sócrates já estão pessoalmente afectadas, até pela conjuntura eleitoral. Sejamos claros: Cavaco está a dizer que Sócrates não cumpriu um compromisso. E onde é que eu já ouvi isto?

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