A liberdade custará 150 mil euros à presidente do Parlamento catalão, Carme Forcadell, que ao admitir que a declaração unilateral de independência da Catalunha era simbólica e ao acatar a implementação do artigo 155.º da Constituição espanhola evita aguardar em detenção o desenrolar do processo. O juiz Pablo Llarena, do Supremo Tribunal, decretou ontem à noite a libertação sob fiança, enviando-a para a prisão de Alcalá-Meco até que consiga reunir o montante (a hora tardia impediu o trâmite bancário). A procuradoria pedia a sua detenção - como fez no caso dos ex-membros do governo - por alegar risco de fuga e de reincidência no crime num processo em que é acusada de rebelião, sedição e peculato na organização do referendo de 1 de outubro..Outros quatro membros da Mesa do Parlamento, acusados dos mesmos crimes, saíram em liberdade e terão sete dias para pagar 25 mil euros de fiança cada um. Um sexto arguido saiu em liberdade sem medidas de coação. Trata-se de Joan Josep Nuet, o único que não era da coligação Junts pel Sí, e que votou contra a tramitação da declaração de independência (ao contrário do que a procuradoria alegava). Os que foram sujeitos ao pagamento de fiança têm que entregar hoje o passaporte e estão impedidos de sair de Espanha, devendo ainda comparecer semanalmente às autoridades..O juiz considera que o perigo de fuga existe, mas não é elevado, já que todos se apresentaram voluntariamente quando foram chamados, ao contrário de outros arguidos "que se encontram em fuga". Uma referência ao ex-presidente da Generalitat, Carles Puigdemont, e outros quatro ex-membros do governo, que estão em Bruxelas e aguardam decisão da justiça belga sobre o pedido de extradição. Quanto ao risco de reincidência, o juiz alega que todos ou "renunciaram a qualquer atividade política futura" ou, querendo continuar a exercê-la, "renunciaram a qualquer atuação fora do marco constitucional". Mas avisou que as medidas cautelares podem ser alteradas e agravadas caso se dê o "regresso à atividade ilegal"..As medidas aplicadas pelo juiz do Supremo Tribunal são menos gravosas do que as aplicadas pela juíza da Audiência Nacional, Carmen Lamela, responsável pelo processo dos ex-membros do governo catalão. Oito deles estão detidos e só um, Santi Vila que se demitiu antes da declaração de independência, está em liberdade depois de pagar uma fiança de 50 mil euros..Mas os membros da Mesa, ao contrário dos ex-consellers, aceitaram responder às perguntas do procurador e do juiz. E todos aceitaram também a aplicação do artigo 155.º e, já nas declarações finais, renunciaram à unilateralidade com que se declarou a independência. No interrogatórios, tinham já admitido que a declaração não foi legalmente vinculativa, mas apenas simbólica. O líder do Ciudadanos, Albert Rivera, tinha reagido no Twitter a estas declarações. "Enganam os cidadãos dizendo-lhes que vivem na "república catalã", mas diante dos juízes têm que confessar a verdade."."Carta da Bélgica" de Puigdemont."Carme Forcadell passará a noite na prisão por ter permitido o debate democrático. Por permitir falar e votar! Assim é a democracia espanhola", denunciou no Twitter o ex-presidente da Generalitat, reagindo à decisão judicial. Através da mesma rede social, Puigdemont anunciara mais cedo a criação de uma "estrutura estável" para coordenar desde Bruxelas as ações do "governo legítimo" da Catalunha..No documento "Carta da Bélgica", dirige-se aos catalães assegurando "que o governo legítimo vai cumprir as suas obrigações". Dizendo-se consciente da desorientação causada pela falta de respostas rápidas disse tencionar promover uma estrutura capaz de cumprir com as "obrigações". O objetivo será "a denúncia da politização da justiça espanhola e a sua falta de imparcialidade e vontade de perseguir ideias"..Na missiva, Puigdemont indica que o "plano" para as próximas semanas é "claro" e que perante a aplicação do artigo 155.º da Constituição é preciso "fortalecer democraticamente" as instituições que foram vítimas de um "golpe de Estado", voltando a pedir uma aposta no "diálogo e numa solução negociada". O ex-presidente da Generalitat denuncia o que considera "decadência democrática do Estado espanhol" que diz atuar de forma "vergonhosa" e "repressiva" sob a tolerância da União Europeia. Apelando à libertação dos "presos políticos", pede a mobilização dos catalães na manifestação de amanhã, em Barcelona, convocada pelas associações Òmnium Cultural e Assembleia Nacional Catalã.