LIBERAIS- -CONSERVADORES
C hegou a altura de uma apresentação. Politicamente considero-me um liberal-conservador. Demorei um certo tempo na vida a perceber isso. Mas hoje posso dizer que me sinto muito bem na minha pele liberal-conservadora. Um liberal-conservador é aquele sujeito que normalmente não quer que o chateiem e defende que os seus concidadãos devem primeiro tratar de si e ter juízo. Ser liberal-conservador e conservador-liberal não é a mesma coisa. Enquanto o liberal-conservador defende a liberdade antes do resto, o conservador-liberal limita-se a ceder à liberdade e só depois de conservar o que queria. O liberal-conservador recebe a liberdade com prazer. O conservador-liberal aceita a liberdade com relutância.
O liberal-conservador não é nem um liberal puro, nem um conservador puro. Aliás, o principal inimigo do liberal-conservador é o purista de qualquer tendência. A verdade é que o liberal-conservador embirra com os liberais puros que nos dão uma má fama ao fazerem-se passar por nós, liberais-conservadores. Os liberais puros reduzem a política à economia, não toleram desvios ao que defendem e vendem o liberalismo como um plano quinquenal.
O liberal-conservador também não vai à bola com o conservador puro. O conservador puro tem a dificuldade de conviver mal com a liberdade dos outros. A liberdade dos outros possui esta característica: não é a nossa. Pode ser a liberdade de fazer aquilo de que não gostamos, de falhar e acertar, de criar e destruir. O conservador puro não está obrigatoriamente contra a mudança. Mas quando muda alguma coisa o conservador puro só é fiel ao que está, ao que já existe. O problema do conservador puro é que o conservadorismo só funcionaria num mundo em que todos fôssemos conservadores puros. Por isso, o conservador puro tende a acabar num autoritário.
Um liberal-conservador está sempre a vigiar a temperatura das suas convicções. Se o termómetro dispara para cima ou para baixo ele age logo com medidas temperadoras. Como liberal preza a independência pessoal contra todas as formas de sujeição, servilismo e pobreza. Como conservador reconhece que a independência absoluta é um projecto impossível e que há um módico de autoridade e hierarquia que temos de aceitar. Como liberal é individualista e pelo mercado. Como conservador reconhece que os indivíduos vivem melhor em comunidades socialmente coesas e organizadas. Como liberal é optimista. Como conservador é pessimista sobre o seu optimismo. Como liberal aprecia a cultura de massas. Como conservador não diz que é arte qualquer saloiice. Como liberal acredita. Como conservador desconfia. O liberal-conservador não rejeita a existência de contradições. O que tenta é um equilíbrio difícil entre si e os outros.|