Lenine acústico ligado à corrente
A meio de Medo, talvez baralhado por ter de cantar parte em português e parte em espanhol, Lenine esqueceu-se da letra. Quase nem se dava por isso. Continuou tocando como se não fosse nada, em vez da poesia devida meteu um "agora esqueci a letra" e avançou para o verso seguinte. Mas, no final do concerto, no momento dos agradecimentos, o músico pediu desculpas: "Foi um prazer da pesada. Fiquei emocionado a ponto de falhar algumas letras. Podia ter acontecido na Dinamarca ou nos Estados Unidos, que eles nem iam perceber. E logo aqui, foi um pecado." Mas até este pequeno deslize contribuiu para que o concerto fosse um sucesso. "Ninguém toca de piloto automático" - não era o que ele tinha dito?
Em Lisboa, o músico brasileiro iniciou a digressão internacional baseada no seu último álbum, Acústico MTV. Nas várias entrevistas que deu antes do espectáculo, Lenine realçou o facto de este ser sobretudo um concerto de banda. E no palco fez tudo para fazer realçar cada um dos músicos: o trio que habitualmente o acompanha (Jr. Tostoi na viola, Guila no baixo e Pantico Rocha na bateria) e o trio de metais que muito contribuiu para a "nova roupagem" dos temas mais antigos - por exemplo, Que baque é esse? ou A Rede, quinta música no alinhamento e aquela que "acordou" a plateia do Tivoli.
Quem nunca o tinha visto ao vivo só pôde ficar surpreendido pelo facto de aquele homem franzino se revelar, afinal, um animal de palco. Só ele sabe o esforço que foi para ficar quietinho, sem esgares em frente ao microfone, durante as duas primeiras músicas - Na pressão e Hoje eu quero sair só - enquanto os fotógrafos estiveram na sala. Assim que as máquinas desapareceram da sua frente, Lenine sentiu-se livre.
O pernambucano toca com o corpo todo, como se a guitarra estivesse ligada a cada membro, percorre o palco, salta e entrega-se aos solos como um verdadeiro rockeiro. E isto é verdade quer para temas mais calmos como O silêncio das estrelas quer para músicas mais potentes como o ritmado Dois olhos negros.
As versões interpretadas foram muito semelhantes às do Acústico MTV, com a diferença de que aqui não houve convidados especiais nem havia pressão para estarem todos unplugged. Não estiveram, e ainda bem. O set final, com Leão do Norte, A Ponte, Dois Olhos Negros e Jack Soul Brasileiro, foi mesmo para dançar (mas só quem tinha lugares de pé o pôde fazer).
Depois de 19 canções que representam diferentes momentos da sua carreira, Lenine voltou para o encore da consagração: TubiTupy e Do it (mensagem contra a inércia: se não tá bom, melhora), acabando por ceder aos pedidos da plateia para terminar com Paciência.