Lena Dunham é aquela miúda que não tem medo do ridículo

A argumentista norte-americana Lena Dunham usa a sua biografia como matéria prima para a ficção na série 'Girls', da HBO, e agora também no livro de memórias 'Não Sou Esse Tipo de Miúda', onde se expõe com muita ironia.
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Lena Dunham é para as miúdas de 20 anos de hoje mais ou menos o mesmo que Carrie Bradshaw era para as trintonas do final dos anos 90. Mas com uma diferença importante: Carrie era uma personagem de ficção, da série Sexo e a Cidade; Lena é uma mulher de carne e osso, tem 28 anos e uma desarmante capacidade para falar dos seus falhanços, dos seus mamilos e do facto de ter sido violada na faculdade com a mesma facilidade com que conta o que jantou ontem à noite. É isso que faz na série Girls, da HBO, de que Dunham é argumentista e intérprete, e que passa em Portugal no canal TVSéries. E também no livro de memórias, lançado em setembro nos EUA e agora em Portugal, Não Sou Esse Tipo de Miúda.

Veja um excerto de um episódio de Girls:

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"Não há nada mais corajoso para mim do que uma pessoa anunciar que a sua história merece ser contada, especialmente se essa pessoa for uma mulher", diz, logo no prefácio. "Por muito que tenhamos trabalhado e por muito longe que tenhamos chegado, ainda há muitas forças que conspiram para dizer às mulheres que as nossas preocupações são insignificantes, que as nossas opiniões não são necessárias, que não temos a seriedade suficiente para que as nossas histórias sejam relevantes."

Veja um dos vídeos da série 'Ask Lena', onde Lena Dunham dá conselhos às raparigas:

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Lena Dunham está determinada em contrariar esta visão. Pega na sua vida, nas suas histórias, nos seus sentimentos e torna-os matéria-prima para sketches, filmes, séries de televisão e agora também um livro. Para uma pessoa que mal consegue conter um segredo e que precisa urgentemente de partilhar, partilhar tudo, para se "manter mentalmente sã", este é o trabalho ideal. Foi por isso que decidiu escrever as memórias (por isso e por causa dos amplamente noticiados 3,7 milhões de dólares que recebeu da editora Random House).

Ler este livro é como entrar dentro da cabeça dela. Ou dentro da sua vagina. Ou do seu umbigo. Há ali uma boa dose de egocentrismo, há que dizê-lo. Além disso, Lena Dunham sofre de transtorno obsessivo-compulsivo, gosta de comer mais do que é aconselhável, engorda e emagrece ao ritmo das crises de ansiedade. Não é propriamente bonita e, ao contrário de Carrie, prefere usar roupa vintage barata a gastar rios de dinheiro em sapatos (é um pouco isto que ela quer diz quando diz que "não é esse tipo de miúda"). Não tem vergonha de se despir em frente das câmaras nem de contar ao mundo as várias paixões e experiências sexuais, mesmo as mais embaraçosas, ou as vezes em que ficou podre de bêbeda. Exibe a sua miséria de uma forma que nos poderia deixar desconfortável, mas não deixa porque fá-lo de forma divertida e espirituosa. Ri-se de si própria.

"A confiança faz que possamos usar qualquer coisa, até chinelos com meias" - esta é uma das grandes lições de Lena Dunham. Raparigas, sejam quem vocês realmente são e não se preocupem com o que os outros vão pensar. O resto acontecerá naturalmente. A ela aconteceu-lhe apaixonar-se pelo músico Jack Antonoff, seu atual namorado. Mas sobre isso ela fala pouco. Talvez num próximo volume.

Não Sou Esse Tipo de Miúda

Lena Dunham

Ilustrações de Joana Avillez

Editorial Presença

PVP: 16,50 euros

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