Leiria. São obras, senhor – e três elevadores que ligam a cidade ao castelo
É uma boa notícia para quem deixou de poder subir ao castelo, e sobretudo para o turismo que (espera-se) há de regressar. A partir de maio o Castelo de Leiria reabre ao público, depois de encerrado durante quase dois anos. Para muitos pode bem ser a primeira vez, já que das obras resultou a instalação de uma estrutura mecânica com três elevadores, permitindo a acessibilidade que até agora não existia.
A subida íngreme e a impossibilidade de fazer chegar um autocarro até à entrada sempre afastou visitantes daquele monumento nacional, mas o presidente da Câmara de Leiria acredita que a instalação dos elevadores (a partir do Estádio, da Sé, e da Torre Sineira) vai "aproximar a cidade do castelo, em poucos minutos". Gonçalo Lopes explicou esta segunda-feira o plano da autarquia para tornar o castelo não apenas num monumento (mais) visitável, como também rentável. Durante a apresentação do espaço à imprensa, depois desta primeira fase das obras, deixou claro que o investimento - na ordem dos 3,8 milhões de euros, mas que no final chegará aos 6 milhões - será canalizado "numa aposta de recuperação económica que tem de acontecer depois da pandemia", à boleia do turismo. "Esse caminho do retorno vai demorar alguns anos, e por isso queremos que Leiria seja uma cidade atrativa a esse nível", disse o presidente - que na semana passada foi anunciado pelo PS como o candidato às eleições autárquicas. Esta será a primeira vez que Gonçalo Lopes vai a votos como cabeça de lista, já que neste mandato lidera o executivo apenas há ano e meio, na sequência da saída de Raul Castro para a Assembleia da República.
Numa cidade que estava a dar tudo em matéria de eventos, a pandemia e o confinamento deixam estragos vários. Por isso o autarca já imagina o castelo de novo aberto às realizações culturais. Foi a pensar nisso que o plano de intervenção previu a instalação de uma bancada, qual anfiteatro a céu aberto, pronto para acolher concertos, teatro, ou outros eventos.
Os arquitetos Vasco Pinheiro e João Junqueira justificam as alterações no espaço com a necessidade de melhorar as acessibilidades, num conjunto de ações "lógicas e necessárias". Já dentro do castelo, é possível escolher entre dois percursos: um mais rápido, através de uma escadaria que passa ao lado da (também recuperada) casa do guarda, e um outro "mais demorado e deambulatório", como sublinhou Vasco Pinheiro. Também João Junqueira destacou a criação de zonas de estar, um pouco por toda a parte, mesmo que a joia da coroa continue a ser a enorme varanda que, lá no alto, se abre sobre a cidade.
Suzana Menezes, diretora regional da Cultura do Centro, sublinhou o processo "desafiante, acometido de especial cuidado" de acompanhamento das obras no Castelo de Leiria, uma de entre as 57 que atualmente decorrem na região Centro. Aquela responsável estima que até 2022/23 esteja conservado e reabilitado "uma parte significativa do património".
No caso de Leiria, as obras que agora estão na fase final representam apenas uma parte do projeto, que depois do verão avançará para o que o presidente da Câmara chama de "obras 2.0", que incidirão sobre a recuperação do palácio. Mas esse obrigará a "uma intervenção muito mais fina, numa zona mais delicada".
DestaquedestaqueO castelo de Leiria recebeu 90 mil visitantes em 2019
Para já, além dos elevadores, a grande atração desta obra foi a recuperação da Igreja de Nossa Senhora da Pena, um espaço "que era uma ruína e agora está coberto", como lembrou a arqueóloga Vânia Carvalho. A mesma para a qual Ernesto Korrodi há muito propusera uma intervenção de fundo. Olhando de fora para o retrato que as obras deixaram, a técnica da autarquia considera que "mudam a perspetiva de quem vem ao castelo", que agora parece ser outro.
É dentro da Igreja da Pena que os arquitetos explicam toda a intervenção, por mais discutível que seja a cobertura, aos olhos do cidadão comum. "Nunca ninguém conheceu a igreja coberta. Havia descrições mas não havia imagens", lembra Vasco Pinheiro, no momento em que atravessa a porta e explica a importância de permitir que a luz natural continue a imperar, através das vidraças ao jeito de claraboia que integram o telhado.
É também de luz natural que será feita a viagem de elevador desde os diferentes pontos de acesso. Gonçalo Lopes explica que cada uma das cabines será transparente, permitindo a quem sobe ao castelo que vá atravessando (mesmo) a cidade. A utilização será gratuita, ao contrário do que acontecerá com a entrada dentro do monumento.
Encerrado ao público desde junho de 2019, o castelo de Leiria não tem ainda uma data concreta para reabrir. Gonçalo Lopes faz depender esse momento da evolução da situação pandémica. Se for favorável, pode bem ser que aconteça logo no princípio do mês. Certo é que será incluído como complemento de visita ao Mosteiro da Batalha, tal como revelou o autarca. A ideia é fazer crescer o número de visitantes, que de 40 mil em 2009 passou para 90 mil em 2019. Tudo para conhecer o espaço doado em 1300 por D. Dinis a sua mulher, Rainha Isabel, santificada pela Igreja graças ao milagre das rosas.