Leilão virtual rende 284 mil euros a herdeiros de Pessoa

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Balanço. Transaccionaram-se cerca de 350 mil euros nos lotes vendidos. A família terá lucrado 284 mil euros e a leiloeira Potássio 4, uns 66 mil. Mas a verdade pode ser outra, quando o Ministério da Cultura e Câmara Municipal de Lisboa decidirem intervir nos direitos que consideram pertencer-lhes

Percentagem da leiloeira estimada em 66 mil euros

Muito do que se passou no leilão de quinta-feira à noite ficará como registo virtual. O verdadeiro balanço só será possível depois de o Estado exercer o direito de preferência no prazo de oito dias, quando receber da leiloeira P4 a lista oficial dos compradores de parte do espólio de Fernando Pessoa. E, também, depois de a Câmara Municipal de Lisboa decidir se e quando entrará com a acção judicial, por terem ido à praça pública lotes que diz pertencer à biblioteca do poeta, que adquiriu aos herdeiros, em 1986, então por 36 mil contos.

Ministério procura mecenas

Se nos abstrairmos sobre o futuro, pode dizer-se que cerca de um terço dos 70 lotes foi retirado por ninguém os comprar, que o total das vendas somou cerca de 350 mil euros, incluindo os 19% de comissão que a Potássio 4 arrecadou - uns 66 mil euros; quanto aos herdeiros, o DN estima, em contas por alto, que lhe caberia receber cerca de 284 mil euros (valores segundo a 1.ª listagem online pela leiloeira). Mas nada se passará assim. O Estado irá exercer o direito de preferência sobre manuscritos que completem séries que a Biblioteca Nacional possui, dependendo o seu número do montante que o Ministério da Cultura puder desembolsar ou arranjar através de mecenas que, soube o DN, estão a ser sensibilizados para o efeito.

"Não vamos comprar todos os manuscritos, mas alguns. Ainda não sabemos quais, a decisão terá de ser tomada de acordo com o ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro. Há uma série de condicionalismo", disse ao DN o director do Biblioteca Nacional, Jorge Couto.

A Câmara Municipal de Lisboa espera igualmente a decisão do Governo para depois agir judicialmente. Para já, contentou-se em adquirir no leilão, por 3200 euros, o contrato de arrendamento da Casa Fernando Pessoa, onde o poeta viveu.

O leilão foi muito agitado. O director municipal da Cultura, Rui Pereira, tentou, através de uma providência cautelar, impedir a venda dos 26 lotes que considera pertencer à biblioteca já adquirida. Mas interpretações diferentes da lei, entre autarquia e advogados da leiloeira, levaram a que prosseguissem as vendas de todos os lotes . Na assistência, entre os curiosos e admiradores do poeta, devem ter estado, anónimos e calados, alguns dos familiares de Pessoa. E o poeta, o que diria de tudo isto?

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