O presidente do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores (INESC) considerou esta terça-feira, em declarações à Lusa, que a lei da inteligência artificial (IA) europeia "é relativamente fraca" na parte da competitividade e defendeu o reforço desta componente..Arlindo de Oliveira falava à Lusa à margem da conferência "Inteligência artificial do lado certo dos negócios", organizada pela Vodafone e que decorreu esta terça-feira no Museu do Oriente, em Lisboa..Questionado sobre a lei europeia (AI Act), o responsável apontou que esta "é relativamente fraca na componente da competitividade", focando-se "muito na componente da segurança dos níveis de risco das aplicações".."Acho que era importante reforçar a componente de criar um ambiente competitivo na Europa onde as empresas europeias pudessem depois competir em igualdade de oportunidades com as empresas norte-americanas e chinesas", defendeu..Caso contrário, a Europa continuará a perder terreno face aos EUA e China em matéria de IA..Em 14 de julho, o Parlamento Europeu deu 'luz verde' às primeiras regras da União Europeia (UE) para a IA.."As regras visam promover a adoção de uma IA centrada no ser humano e fiável e proteger a saúde, a segurança, os direitos fundamentais e a democracia dos seus efeitos nocivos", referiu a assembleia europeia, na altura..Em concreto, nesta posição agora adotada pelos eurodeputados, está definido que as novas regras prevejam uma total proibição da IA para vigilância biométrica, reconhecimento de emoções e policiamento preventivo, imponham que sistemas geradores desta tecnologia como o ChatGPT indiquem de forma transparente que os conteúdos foram gerados por IA e ainda que os programas utilizados para influenciar os eleitores nas eleições sejam considerados de alto risco..A Comissão Europeia apresentou, em abril de 2021, uma proposta para regular os sistemas de IA, a primeira legislação ao nível da UE e que visa salvaguardar os valores e direitos fundamentais da UE e a segurança dos utilizadores, obrigando os sistemas considerados de alto risco a cumprirem requisitos obrigatórios relacionados com a sua fiabilidade..Na sua intervenção na conferência organizada pela Vodafone, Arlindo de Oliveira abordou um dos problemas levantados pela analítica (análise de dados), que é a criação de bolhas de informação..Estas bolhas informativas "têm um certo risco porque as pessoas como veem conteúdos que são diferentes através das redes sociais, através dos media, tendem a ver realidades diferentes e isso dificulta o diálogo e radicaliza muito as posições", explicou, posteriormente, em declarações à Lusa, o especialista..Ou seja, "vemos cada vez maior dificuldade no debate político, cada vez mais dificuldade em as pessoas perceberem outro ponto de vista" e "essas bolhas são um desafio para o futuro das sociedades", apontou Arlindo de Oliveira..O presidente do INESC deu como exemplos os EUA e o Brasil, onde se assiste a essas bolhas de informação de "maneira muito marcada", mas "também na Europa em alguns aspetos"..Questionado sobre como mitigar este problema, apontou que "existem abordagens legislativas e estatais"..Por exemplo, disse, "podemos obrigar que os conteúdos não sejam tão personalizados, aliás, há leis a serem discutidas sobre isso"..Para além disso, "as pessoas podem, elas mesmas, tentar informar-se melhor, a terem visões mais equilibradas das questões e não irem sempre aos mesmos canais, às mesmas redes sociais", acrescentou.