Le Pen não vai ganhar as eleições

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O tio, caso a Marine le Pen chegue à segunda volta, serias capaz de votar nela?" "Nunca na vida, Olivier!" Sempre que volto para a França durante o Natal, gosto de falar de política com o meu tio.

Ele, como quase toda a minha família, irá votar à direita nas eleições presidenciais de 2017.

Mas todos eles continuam a ter uma alergia brutal em relação à Frente Nacional.

Sei que depois do brexit, de Donald Trump, o "ideologicamente correto" prevê agora um novo trambolhão na vida política mundial com a eleição de Marine le Pen.

Essa previsão já foi feita na comunicação social portuguesa.

Até parece que em segredo, alguns desejam essa vitória para terem mais uma prova de que o povo deu uma nova lição às elites.

Mas isso não irá acontecer. O que se verifica na minha família é o que acontece na maioria das famílias em França.

Costumo dizer que a Frente Nacional é como a Juventus, o clube de futebol mais amado e ao mesmo tempo mais odiado da Itália.

Na primeira volta das eleições, o partido de Le Pen deverá ser o mais votado. As sondagens dão-lhe cerca de 25 por cento dos votos.

O problema para a extrema-direita, como se verificou nas eleições regionais de 2015, é que existe uma segunda volta e aí, nas sondagens, Le Pen não consegue ultrapassar a barreira dos 35-40.

Marine le Pen tem o mesmo problema do que o pai quando houve contra ele em 2002 uma grande mobilização do eleitorado de esquerda e de direita. Resultado: Chirac ganhou com 82 por cento dos votos!

A única esperança para a filha em 2017 teria sido defrontar na segunda volta Nicolas Sarkozy ou François Hollande, porque aí, o eleitorado tradicional de esquerda e de direita teria hesitado em dar o seu voto aos dois homens que tanto desiludiram ao longo dos anos.

Só que desta vez, o eleitorado não vai hesitar.

O candidato da direita não é Sarkozy e no caso de uma segunda volta Fillon-le Pen, a maioria dos eleitores de esquerda irá votar para o candidato da direita conservadora.

Mas a pior notícia para Marine le Pen é defrontar na segunda volta o candidato da esquerda, em princípio será Emmanuel Macron, representante da ala liberal e que agrada também ao eleitorado tradicional da direita.

Resultado, nas sondagens, tanto o Fillon como o Macron ganhariam à Marine le Pen com cerca de 20 pontos de vantagem!

O problema para a extrema-direita é que surgiram nos últimos meses dois outros candidatos "antissistema". Um deles é Macron que não tem a etiqueta do PS e que tenta reunir a esquerda e a direita: uma jogada inteligente numa altura em que os franceses rejeitam cada vez mais os partidos tradicionais.

O outro candidato antissistema é Jean-Luc Melanchon, representante da extrema-esquerda, que reúne 15 por cento das intenções de voto e cujo discurso antiliberal atrai cada vez mais a juventude francesa e o eleitorado de Melanchon nunca irá votar em Le Pen na segunda volta!

Resta saber se as sondagens podem ou não enganar-se ao ponto de a Frente Nacional recuperar os 20 pontos de atraso.

Duvido que seja possível, sobretudo porque em França, nos seus cálculos, as empresas de sondagens já levam em conta os eleitores que não assumem votar na extrema-direita.

Mas Marine le Pen deverá estar na segunda volta e poderá orgulhar-se de ter melhorado claramente o resultado do pai em 2002 (18 por cento para Jean-Marie e de 35-40 para Marine segundo as sondagens). Será um aviso forte para o futuro. Com este ritmo, a Frente Nacional poderá em 2022 ou 2027 ganhar as eleições. Sim, talvez. Só que na Frente Nacional prepara-se uma outra luta para a direção do partido entre Marine e a sua sobrinha Marion, ainda mais radical do que a tia. Marion Marechal le Pen, uma jovem talentosa de 27 anos, cada vez mais apreciada pelo eleitorado de extrema-direita.

"Ó tio serias capaz de votar para Marion Marechal le Pen?"

"Nunca, Olivier! É pior do que a tia! É contra o aborto e contra o casamento gay."

O mais amado e o mais odiado: é o problema recorrente da Frente Nacional.

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