Lava Jato: Lula da Silva cometeu muitos atos corruptos e "merece a prisão" - investigador

Um ano após a prisão de Lula da Silva, o investigador e autor do livro "Guerra à Corrupção: Lições da Lava Jato" diz que já leu processos contra o ex-Presidente brasileiro e considera que este "merece estar na prisão".
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"Eu li os processos, vários, não todos, porque acho que são mais de seis, pelos quais ele [Lula da Silva] respondia e responde. E estou completamente convencido de que cometeu muitos atos corruptos, sim, e merece estar na prisão", afirmou o professor brasileiro e investigador Sérgio Praça, em declarações à Lusa por telefone.

Faz precisamente este domingo um ano que o ex-Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva saiu à noite, a pé, rodeado de seguranças, do Sindicato dos Metalúrgicos, onde se encontrava desde há dois dias, em São Bernardo do Campo, no Estado de São Paulo, para se entregar à Polícia Federal.

Cercado de militantes do Partido dos Trabalhadores (PT), que queriam impedir que o ex-Presidente se entregasse, Lula da Silva entrou num veículo da polícia que o aguardava nas imediações, para o levar para aeroporto de Congonhas, de onde apanharia um avião para se entregar em Curitiba.

Lula da Silva foi condenado a 12 anos e um mês de cadeia no âmbito de um processo da Operação Lava Jato, em que era acusado de receber um apartamento de luxo à beira-mar da construtora OAS em troca de favorecimento de contratos dessa empresa com a petrolífera estatal brasileira Petrobras.

O juiz federal Sérgio Moro, agora ministro da justiça do Governo do Presidente brasileiro Jair Bolsonaro, tinha ordenado dois dias antes a prisão do antigo chefe de Estado brasileiro (2003-2011) depois de o Supremo Tribunal Federal e o Supremo Tribunal de Justiça terem rejeitado os pedidos de 'habeas corpus' apresentados pela defesa de Lula da Silva.

A prisão de Lula Silva foi para o Brasil "uma coisa absolutamente inédita", disse à Lusa o professor Sérgio Praça.

"Foi um ex-Presidente a ser preso por corrupção, algo que seria relevante em qualquer país, mas para o Brasil foi especialmente marcante", afirmou.

Por dois motivos, disse: "Na história do país, políticos corruptos não costumavam ser responsabilizados. E, em segundo, porque Lula foi um Presidente muito popular, que se elegeu em grande parte por argumentar que era honesto, por argumentar que o seu partido, o Partido dos Trabalhadores, era melhor do que os outros, porque não cometia atos corruptos".

Nesse sentido, defendeu, a prisão de Lula da Silva "foi um choque e um sentimento bom para muita gente".

Já para a operação Lava Jato, em concreto, "a prisão de Lula da Silva foi o principal marco dos resultados da investigação", considerou Sérgio Praça.

"É uma coisa imensa um Presidente ser preso, e a investigação conseguiu fazer isso, mesmo com parte das provas contra o ex-Presidente não sendo bem aceites por toda a sociedade. Muita gente discorda", referiu o professor.

Segundo o investigador e autor de livros sobre corrupção no Brasil, a partir da prisão de Lula da Silva, marcaram-se dois caminhos: "Quem já apoiava a operação passou a apoiar ainda mais", mas, por outro lado, "a operação também começou a ser mais questionada" porque muitos questionam se as provas para a prisão de Lula da Silva foram suficientes.

Entre estes dois cenários, a Lava Jato vai continuando o seu caminho, concluiu.

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