Laureados: revoluções árabes não foram em vão
No dia em que a conhecida revista norte-americana 'Time' decidiu declarar o manifestante como a figura do ano, Asmaa Mahfouz e Ahmed al-Senussi foram aplaudidos de pé pelos deputados do Parlamento Europeu, ao receberem do presidente da eurocâmara, Jerzy Buzek, os diplomas do Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento 2011.
"Não há nada mais importante do que os direitos humanos e a Primavera Árabe mostrou que a nossa fé nos direitos humanos acabou por prevalecer", disse Buzek, enquanto enaltecia o papel de Asmaa e Ahmed. A activista egípicia, de 26 anos, pôs um vídeo no Facebook, em Janeiro, a pedir aos seus compatriotas que saíssem às ruas, para defender os direitos humanos, fazendo frente ao regime de Hosni Mubarak. E o ex-preso político líbio, de 78 anos, é hoje membro do Conselho Nacional de Transição. Além deles, outros três activistas da Primavera Árabe foram distinguidos com o Prémio Sakharov: Mohamed Bouazizi, o tunisino que se imolou pelo fogo e morreu em Janeiro, Razan Zaitouneh, uma jovem blogger síria que está na clandestinidade com medo da repressão do regime de Bachar al-Assad e enviou uma mensagem escrita e, ainda, Ali Farzat, o cartunista crítico do Presidente sírio, que agora vive no Koweit. Agradeceu o galardão numa mensagem emotiva que enviou aos eurodeputados através de video-conferência.
"Este prémio é para todos os jovens egípcios que sacrificaram a sua própria vida em prol dos direitos humanos. Estou orgulhosa pelos mártires da revolução árabe. Vamos continuar por este caminho, que permitirá alcançar o nosso sonho de mudança. Glória aos nossos mártires", disse Asmaa, no discurso que fez perante a eurocâmara hoje ao início da tarde. A activista que alguns consideram responsável pela mobilização na Praça Tahrir, deixou um claro aviso às autoridades militares que actualmente lideram os destinos do Egipto:
"Sofremos muito com a ditadura de Mubarak e conseguimos provocar a sua queda.
Agora estamos a lidar com um regime mais sórdido, o regime do Conselho Militar. É preciso fazer uma distinção. No Egipto temos orgulho no nosso Exército, mas queremos que haja liberdade em todo o país e não queremos repressão nem violações dos direitos humanos. Há jovens que estão dispostos a sacrificar-se para que haja um Estado civil livre e respeitador dos direitos humanos". Também num discurso virado para o futuro da Líbia pós-Kadhafi, Ahmed al-Senussi, que é sobrinho-neto do Rei Idriss, derrubado pelo coronel no golpe de 1969, garantiu que este país árabe não vai desiludir os que fizeram e os que o apoiaram a revolução. "Os nossos vizinhos europeus foram os primeiros a apoiar a nossa população desarmada e graças a esse apoio conseguimos livrar-nos de um regime totalitário que vigorava há 42 anos. Durante os 31 anos em que estive na prisão, nove deles numa solitária, passei problemas de saúde, mas nada disso me fez perder a esperança de defender a dignidade humana. Na Líbia, agora, queremos ser tratados em pé de igualdade na comunidade internacional.
Não queremos ser tratados como uma nação de terroristas, amamos a vida, a nossa e a dos outros e espero que este prémio permita dar um passo importante noutros países que ainda vivem com ditaduras. Ainda nos falta um longo caminho, é certo, mas vamos, com a nossa persistência, conseguir lá chegar, com o vosso apoio ter um Parlamento e uma Constituição aprovada pelo povo da Líbia".