Laura Linney

É uma das mais consagradas actrizes da sua geração. Nomeada para os Óscares e venerada pelos seus pares, Laura Linney está de regresso em <i>O Outro Homem, </i>de Richard Eyre, um drama de suspense em que o adultério confunde as personagens de Antonio Banderas e Liam Neeson. Para desvendar nos cinemas a partir de quinta-feira.<br /><br />
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Este filme fala sobre a honestidade num casamento. Até que ponto a honestidade pode ser algo negativo?
Não sei. Sei que há pessoas que vivem vidas demasiado compartimentadas. Mas todas são diferentes. Há casais que são completamente devotos um do outro, mas outros vivem uma vida mais separada, sem que com isso se amem menos. A questão do adultério também tem que ver com as nossas bases culturais. Na América ninguém aceita o adultério, enquanto em outras partes do mundo já não é bem assim. Na verdade, tudo depende de quanto a psicologia de cada um consegue suportar. Uns conseguem perdoar, outros não. Eu era incapaz de amar duas pessoas ao mesmo tempo. Quero dizer… não sei, quem sabe? Mas acho que não. A questão mais importante em The Other Man é se alguém pode ser pertença de outro.

Pessoalmente, essa ideia de pertencer ao outro deixa-a confortável?
Sim, sem problemas.

Há quem veja este argumento como uma tese sobre o direito a ter uma vida secreta…
Sim, é sobre o direito aos nossos segredos e como conseguimos negociar esse direito. Para uns isso pode ser impossível, para outros confortável. Cada um negoceia esse direito consigo mesmo, às vezes bem, outras… não tão bem.

E como negoceia a filmagem da sua nudez?
[Risos] Este foi o meu canto de cisne no que toca a nudez… Já chega. Penso que vou ficar feliz quando chegar aos 80 anos e vir este filme.

Canto do cisne!? Quer dizer que está à procura de uma nova fase na carreira?
Não encaro o meu trabalho dessa maneira. Nunca sei o que me apetece fazer a seguir, prefiro sempre ser surpreendida com um realizador que chega ao pé de mim com uma proposta. Penso que um actor entra em sarilhos quando sabe o que quer fazer a seguir.

Nunca faz campanhas para conseguir este ou aquele papel?
Nunca, nunca luto para conseguir papéis. Se alguém não me quer, não me imponho! Por outro lado, tenho o maior respeito por aquelas actrizes que vão à luta e põem na cabeça que vão mudar a opinião do realizador. Tenho sorte por já ter trabalhado com Richard Eyre, o realizador deste filme. Ele já me conhecia. É o meu cineasta preferido. Nesses casos, nem leio o argumento.
Como poderia recusar trabalhar com Richard Eyre e Liam Neeson!?

Já tinha trabalhado com Liam Neeson anteriormente. O facto de serem amigos também ajuda nas filmagens?
Ajuda muito. Somos tão amigos que nem falamos do trabalho. Por esta altura, basta-nos apenas a confiança mútua. É o mesmo que ter um grande parceiro de dança – sabe sempre para onde vamos. Conhecemo-nos tão bem… Esse nível de conhecimento faz que toda a questão de nervosismo seja anulada.

Quando está a ver-se no grande ecrã olha para aquela mulher e vê-se a si ou apenas a personagem?
Para ser honesta, nunca me vejo a mim. Quando vi este filme já montado com música achei-o muito Hitchcock. Amei este filme. É bom também pensarem em Brian de Palma quando o virem.

O que sabemos da sua personagem é através do olhar de dois homens e das fotografias.
Há uma das fotos que revela algo sobre a sua vaidade. Aquela mulher tem vaidade assumida. É alguém que precisava de permissão para viver.

Como acha que este filme vai deixar as pessoas?
O público vai sair das salas muito desconfortável. Tenho a certeza, sobretudo porque aquela mulher ama mesmo dois homens!

Uma das suas paixões é ensinar representação. De onde nasceu essa paixão?
Estudei na conceituada Julliard, em Nova Iorque. Estive lá quatro anos e adorei. Não é uma escola de artes para todos, mas era perfeita para mim. A Julliard é muito, muito intensa. Claro que também tive dias duros, aquilo não é nada fácil. Mas naquela altura tinha fome de conhecimento. Queria aprender tudo! Felizmente, senti que aqueles professores difíceis e exigentes estavam do meu lado. Eles não eram ríspidos só porque eram maus. Percebi que eram assim porque queriam fazer de mim uma melhor actriz. Quanto à paixão por ensinar, veio depois. Quando estou em filmagens perto de alguma escola dramática vou lá sempre dizer que estou disponível para ajudar. Tento dar aulas regularmente. Aposto em fazermos aulas baseadas em determinadas sequências de cinema. Ao contrário dos meus professores da Julliard, não sou ríspida. Tenho outros truques.

Há algum método Laura Linney?
Penso que o que é pessoal de um actor acaba por misturar-se sempre com as características da personagem. O importante é um actor ver a personagem sob o ponto de vista do guião, a começar pelo contexto. Às vezes, sinto que certos actores levam demasiado deles próprios para a personagem. Choram muito, em especial no palco, e o público não sente nada. Certos caminhos emocionais dos actores não servem para a história, para a personagem. Um actor tem é de ser íntimo com a personagem. Ser íntimo não é ser pessoal. Tento trabalhar sempre de maneira diferente de projecto para projecto. O que não muda é a minha vontade de dar primazia à história. A história vem sempre primeiro.

Tem ganho muitos prémios de interpretação. Qual a sua relação com a consagração?
É muito simpático ser homenageada com prémios. O importante é conseguir perceber qual o valor que esses prémios têm para mim. O significado de um prémio pode ser diferente. Certos prémios mudam a vida das pessoas por completo. Depois, quando não ganham, ficam muito desapontadas. Por exemplo, estou muito orgulhosa pelas minhas nomeações para os Óscares, fizeram que toda a gente na rua me felicitasse. Ao mesmo tempo, sinto que foram apenas simpáticos sinais de encorajamento.

Já alguma vez atingiu um ponto de saturação com Hollywood?
Mesmo sendo um privilégio ter tanto trabalho, não deixo de reconhecer que de vez em quando há uma sensação de saturação. É mesmo difícil conseguir ter uma vida normal e fazer filmes a esta escala, sobretudo com tanta viagem. O stress é terrível. Estar constantemente a conhecer gente nova e continuar concentrada é muito complicado. Ainda estou a tentar ter vida para além da profissão.

É possível?
Estou a tentar.

Ainda…
Sim, continuo. Como sempre estive ligada às artes toda a minha vida, não sei viver uma vida normal. Sou muito melhor a trabalhar do que a gerir a minha vida pessoal. A maioria dos actores é assim, não sou a única.

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