Largo da Graça vai ter passeios mais largos e uma praça para o Elétrico 28

EMEL vai construir parque de estacionamento com dois andares nas traseiras do quartel de bombeiros. Câmara está a negociar terreno com a GNR. Obras vão durar cinco meses e vão reabilitar Jardim Augusto Gil
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Quem chegava ao Largo da Graça a um sábado de manhã tinha à sua frente o seguinte panorama: carros estacionados. Carros estacionados em segunda fila. E, não poucas vezes, carros estacionados em terceira fila. Isto era o que se passava até ao último sábado, antes de terem tido início - nesta semana - as obras de reabilitação daquele espaço. É que estas já ocuparam uma das zonas que serviam precisamente o estacionamento, num local onde não há parques. Isto numa freguesia que, de acordo com os últimos Censos, duplica a densidade populacional da cidade de Lisboa.

O Largo da Graça é um dos locais integrados no programa camarário Uma Praça em Cada Bairro - durante os próximos cinco meses, as ruas vão ser repavimentadas e os passeios alargados, com a criação de novas zonas de estadia. O projeto, que abarca uma área de cerca de 15 mil metros quadrados, prevê a criação de um espaço pedonal alargado desde o Convento da Graça, atravessando todo o largo e parte da Damasceno Monteiro, até ao Jardim da Cerca. Prevista está também a reabilitação do Jardim Augusto Gil, junto ao Miradouro da Graça. E a criação de uma Praça do Elétrico 28, onde já atualmente se situa a paragem do transporte mais icónico de Lisboa.

Hugo Costa é o atual responsável por um espaço mítico no Largo da Garça - o Botequim, fundado no final dos anos 1960 por Natália Correia (a par de Isabel Meyrelles, Júlia Marenha e Helena Roseta, a atual presidente da Assembleia Municipal de Lisboa) e que nas duas décadas seguintes se tornou ponto de reunião de grandes nomes da intelectualidade portuguesa, de José Cardoso Pires a Luiz Pacheco, de Ary dos Santos a David Mourão-Ferreira. Da porta do Botequim já se vê o estaleiro que está a ser montado um pouco mais à frente, mas Hugo Costa está contente com o que aí vem. Mais espaço pedonal e mais zonas de estadia são boas para o turismo. E o que é bom para o turismo é bom para a restauração: "Quanto mais força lhe derem, melhor. Para os comerciantes é uma mais-valia." Um sentimento que não é generalizado, admite: "Nota-se uma certa relutância dos habitantes. Este é um bairro muito familiar e as pessoas queixam-se de que já não conhecem os vizinhos, já não conhecem as pessoas na rua."

E o estacionamento?

Há uma outra questão que levanta muitas dúvidas, e se o novo projeto para o largo não é recebido com desagrado, vem sempre com uma pergunta atrás: e o estacionamento?
No cruzamento com a Rua Damasceno Monteiro, o quiosque de Hugo Valadares tem vista privilegiada para o Largo e é um ponto de paragem para muitos habitantes do bairro. As esplanadas e o aumento da área pedonal até merecem elogios, mas também há que atender às necessidades de quem vive ou trabalha na zona. "O grande problema aqui é o estacionamento. Isto já é caótico com o estacionamento que tem, imagine-se com menos de metade", diz ao DN. "É uma zona residencial e uma zona de comércio, há muitos carros que ficam aqui durante o dia. É muito complicado estacionar", frisa Hugo Valadares. A situação agrava-se às terças-feiras e, sobretudo, aos sábados, dias em que a Feira da Ladra se instala no Largo de Santa Clara, que durante o resto da semana serve para estacionamento.

EMEL vai fazer um novo parque

Natalina Tavares de Moura, presidente da Junta de Freguesia de São Vicente, admite que este é um "grande problema", que tem para já uma resposta parcial. "A Junta fez um estacionamento na entrada da Quinta do Ferro, que terá 37 lugares", adianta ao DN. Ainda sem um número de lugares definitivo, mas que deverá passar a centena, a EMEL vai construir um parque de estacionamento de dois andares nas traseiras do quartel da 4.ª companhia do Regimento de Sapadores Bombeiros, junto ao largo. Segundo fonte oficial da EMEL não há ainda data para o início dos trabalhos, mas deverá ocorrer "em breve". Outra solução que está a ser negociada pela câmara, diz a presidente da junta, passa pela utilização de terrenos afetos ao quartel da GNR, para estacionamento dos residentes. Ao que o DN soube, esta solução está, no entanto, ainda longe de se concretizar.

Para já, não está prevista a instalação de parquímetros no Largo da Graça, mas a EMEL vai passar a gerir o estacionamento no troço inicial da Damasceno Monteiro, que dá acesso ao Jardim da Cerca (a parte restante da artéria já pertence a Arroios).

Já quanto aos transportes públicos, no caso do Largo da Graça restringem-se ao Elétrico 28 e ao autocarro 734, que faz a ligação entre o Martim Moniz e a Estação de Santa Apolónia. Não é o único, nem sequer o maior problema neste domínio, na freguesia, diz Natalina Tavares de Moura. "Pedimos à Carris autocarros mais pequenos, que circulassem na Damasceno Monteiro, mas não tivemos resposta positiva. O que fizemos foi criar o São Vicente à Porta, uma carrinha para servir zonas que não estão servidas. Também não temos transportes públicos assegurados na Calçada dos Barbadinhos e no Vale de Santo António", lamenta.

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