Lapa: um pedaço da história de Portugal para conhecer no Porto

Da igreja que acolhe o mausoléu de D. Pedro IV ao primeiro cemitério romântico português, há um valioso património a descobrir
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Para a igreja da Lapa merecer uma visita bastaria recordar que antes de morrer, a 24 de setembro de 1834, D. Pedro IV deixou como último desejo que o seu coração fosse entregue à cidade Invicta, como agradecimento à população pelo apoio durante o Cerco do Porto, entre julho de 1832 e agosto de 1833, durante a Guerra Civil entre liberais e absolutistas.

A promessa foi cumprida pela sua mulher, Dona Amélia, e em fevereiro de 1835 o coração chegou num navio vindo de Lisboa, seguindo em procissão no meio de uma multidão desde a Ribeira até à Lapa, a igreja onde durante a guerra o rei se deslocava aos domingos para rezar com o seu capelão militar, desde que trocara a sua residência no Palácio dos Carrancas (hoje Museu Soares dos Reis), menos seguro e mais propício a ser atingido pelos bombardeamentos miguelistas, pela zona de Cedofeita.

O rei português que se tornou o primeiro imperador do Brasil é desde essa data uma espécie de patrono da igreja, onde no altar se destaca o mausoléu que guarda o seu coração a sete chaves, arrumadas no gabinete do presidente da Câmara - sempre que é necessário retirar o coração são precisas seis pessoas para efetuar esta operação delicada.

O canto mais brasileiro de Portugal

Para dar a conhecer não só esta relíquia mas todo o seu valioso património, que conta uma parte importante da história de Portugal, a Irmandade da Lapa dá agora aos portuenses e ao crescente número de turistas que visitam a cidade a oportunidade de fazerem uma visita a um complexo onde se podem ver, no mesmo quarteirão em pleno coração da cidade do Porto, a igreja, o cemitério e o hospital.

A primeira destas visitas, que podem ser agendadas três vezes por semana ou sem marcação no último fim de semana de cada mês, ocorreu no último sábado de janeiro e foi acompanhada pelo DN.

Igreja como forma de arte

A Lapa é bem mais do que a ligação a D. Pedro IV e ao Brasil. Na igreja, um edifício rococó com vestígios de barroco da segunda metade do século XVIII (a construção começou em 1756), encontra-se a cada passo património valiosíssimo.

Há obras de arte que saltam à vista: desde a tela de 20 metros do pintor portuense Joaquim Rafael que se destaca no altar, encimado por uma estátua central de Nossa Senhora da Lapa, até aos vitrais no extremo oposto da nave da igreja, concebidos pelo artista italiano Ricardo Leone, que envolvem o monumental órgão de tubos.

O maior instrumento deste tipo em Portugal impressiona desde logo pelas cerca de 32 toneladas, 15 metros de altura, 10 de largura e 5 de profundidade, dispondo de 64 registos, 256 combinações, 4 teclados e 4500 tubos capazes de produzir um som único que pode ser fruído pelo público nas missas de domingo.

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