Lana Del Rey: uma flautista de Hamelin da era pop
Às vezes, para ajuizar globalmente um som, torna-se indispensável recorrer à imagem. Ora, nessa matéria, Lana Del Rey (nascida Elizabeth Woolridge Grant há pouco mais de 30 anos) já entra a ganhar: o corpo, o movimento, o olhar, o sorriso (mesmo raro), todos os elementos que lhe asseguraram algumas presetailouas das canções "estruturantes" do álbum.
De imediato, ressalta uma troca: Lana (como Lana Turner, se quisermos ir diretos à iconografia) Del Rey (para alimentar o exotismo e aquilo a que a própria chama "a elegância do mar", seja lá isso o que for) troca os neons pela luz do Sol. Abraça o mar, manuseia com igual perícia uma metralhadora decorada - para destruir um helicóptero que teima em espiá-la - e uns auscultadores, adereços para o que parece ser uma sessão de bronzeamento, oscila entre a confissão de voyeurista e a denúncia de uma relação que perdeu o interesse.
Muita água e um guarda-roupa que, à força de negligés, favorece as transparências e cataliza a imaginação. Neste quadro, temo-la onde, se calhar, sempre a quisemos: com a música a preencher espaços abertos, enlaçada com a brisa que faz abanar suavemente as palmeiras, tudo sem ondas de alteração nem atropelos de velocidade.