Brexit. Labour apoia extensão do Artigo 50º

Emily Thornberry, ministra dos Negócios Estrangeiros sombra do Reino Unido, do Labour, afirmou esta quarta-feira na câmara dos Comuns que a coisa mais avisada a fazer é pedir uma extensão do Artigo 50º e adiar o Brexit
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O Labour admitiu esta quarta-feira, através da sua ministra dos Negócios Estrangeiros sombra, que a coisa mais sensata a fazer é a primeira-ministra britânica, Theresa May, pedir uma extensão do Artigo 50º, uma vez que considera ser impossível encontrar um novo acordo antes da data prevista para o Reino Unido sair da UE, ou seja, 29 de março. No mesmo dia, o Telegraph avançou que oito membros do governo britânico têm realizado reuniões secretas para discutir um cenário de adiamento do Brexit em pelo menos oito semanas, ou seja, até 24 de maio (altura em que se realizam na UE27 as eleições europeias e das quais o Reino Unido já não é suposto participar).

"O sensato, a coisa mais cautelosa a fazer, neste momento, é tentar uma extensão do Artigo 50º para que tenhamos tempo de ver se as negociações têm sucesso ou, se não, se temos que seguir um plano diferente", declarou Emily Thornberry, na câmara dos Comuns. A ministra sombra dos Negócios Estrangeiros, próxima do líder dos trabalhistas, Jeremy Corbyn, afirmou que o Reino Unido não consegue garantir, neste momento, uma saída sem um regresso de uma fronteira física na Irlanda do Norte sem ter uma união aduaneira ou um backstop (mecanismo contestado e chumbado já pelos deputados britânicos) ou uma solução tecnológica para a zona de fronteira entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda.

Estas declarações surgem na véspera da ida da primeira-ministra Theresa May a Bruxelas, para se reunir com o presidente da Comissão Europeia Jean-Claude Juncker e o presidente do Conselho Europeu Donald Tusk. Este recebeu hoje o primeiro-ministro da Irlanda, Leo Varadkar, que é contra a eliminação do backstop e vê-o como garantia. O polaco reafirmou que a UE27 recusa renegociar o acordo do Brexit e está a preparar-se para um Brexit sem acordo a 29 de março. Mas não foi por isso que gerou polémica. Mas sim por esta frase na conferência de imprensa. Depois replicada no seu Twitter: "Tenho estado a pensar se há um lugar especial no inferno para aqueles que promoveram o Brexit sem ter um plano para o executar de forma segura".

Apesar de tudo, a declaração de Donald Tusk, foi considerada como sendo bastante forte. O porta-voz do Partido Democrático Unionista para o Brexit, Sammy Wilson, classificou o presidente do Conselho Europeu como um "euromaníaco diabólico", acusando-o a ele e aos "seus negociadores arrogantes da UE" de "inflamar as chamas do medo" numa tentativa de "tentar reverter o resultado do referendo" de 23 de junho de 2016, que deu 52% para o Brexit, 48% contra o Brexit. O Sinn Féin, partido republicano da Irlanda do Norte, oposto do DUP, concordou, por sua vez, com Tusk, dizendo que entre os brexiteers que vão arder no inferno estão claramente os deputados e os líderes do DUP. "Não me queiram convencer de que qualquer coisa que Donald Tusk possa dizer vai endurecer a posição de Boris Johnson e Jacob Rees-Mogg. Eles são pessoas que agiram com total menosprezo em relação à experiência do povo britânico, do norte e do sul, com desprezo pelo processo de paz que foi construído coletivamente durante décadas", declarou a líder do Sinn Féin, Mary Lou McDonald.

Também o Partido Nacionalista Escocês, através do seu porta-voz para os Assuntos Europeus, Stephen Gethins, aplaudiu Tusk: "Os charlatães que lideraram a campanha do Leave nem sequer tiveram a decência de desenhar os seus planos antes do voto, que levou diretamente à incerteza e ao prejuízo que enfrentamos hoje em dia. O presidente do Conselho pôs o dedo na ferida com as declarações que fez", afirmou Gethins, citado pelo Guardian.

Andrea Leadsom, líder da da câmara dos Comuns, que foi um dos rostos da campanha pelo Brexit no Reino Unido, disse que Tusk deveria pedir desculpa por declarações "miseráveis" e "completamente inaceitáveis". Um porta-voz da primeira-ministra britânica, Theresa May, considerou, por seu lado, que esta subida de tom não ajuda a encontrar soluções. "Cabe a Donald Tusk dizer se ele considera o uso deste tipo de linguagem útil - penso que deve ter sido uma manhã difícil, uma vez que ele não aceitou perguntas. Tivemos um referendo neste país. As pessoas votaram para sair da UE. E aquilo em que todos deviam estar concentrados é em arranjar maneira de cumprir essa decisão do povo britânico, para que possamos sair da UE de forma ordenada, com um acordo, um acordo que seja do melhor interesse do Reino Unido e da UE", afirmou o porta-voz de Downing Street citado pela editora-adjunta de Política do Guardian Heather Stewart.

De visita à Irlanda do Norte, May garantiu, na terça-feira, que pretende encontrar uma maneira de, depois do Brexit, manter a fronteira aberta entre aquela província do Reino Unido e a República da Irlanda. Só não explicou qual. E os rebeldes eurocéticos do seu Partido Conservador poderão ficar desconfiados de que se prepara para manter o backstop. No dia 13, may deverá regressar à câmara dos Comuns para falar do Brexit e no dia seguinte, dia 14, poderia haver novo voto. Isto depois de os deputados terem chumbado, a 15 de janeiro, o acordo do Brexit negociado entre Londres e a UE27. Porém, parece pouco provável - e viável - que haja um novo plano - e definitivo - para ser votado no Parlamento britânico no dia 14.

Downing Street anunciou, esta tarde, que May irá à Irlanda, na sexta-feira, falar com Varadkar. Num comunicado conjunto, divulgado pelo chefe de gabinete de Michel Barnier, negociador chefe da UE para o Brexit, Varadkar, Tusk e Juncker reafirmam que o acordo negociado por Londres e a UE27 é o melhor possível, tal como a solução do backstop, sendo desejável por todos que o Reino Unido saia da União Europeia enquadrado por um acordo. O comunicado conjunto, partilhado por Daniel Ferrier na sua conta de Twitter, sublinha, porém, que em paralelo com a situação atual, continuam os preparativos por parte da UE e dos seus Estados membros para um cenário de No Deal Brexit a 29 de março.

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