Laboratório estuda a forma como se envelhece. "É possível voltar atrás no tempo", diz bióloga

Há já dois anos que a Altos Labs procura perceber e encontrar formas de parar, ou travar, o envelhecimento. Retroceder a nível celular já foi possível, mas resta agora testar em humanos. E vai demorar até ser uma realidade.
Publicado a
Atualizado a

Reverter o envelhecimento "é possível". A convicção é deixada pela bióloga Pura Muñoz em entrevista ao El País. A espanhola é uma das investigadoras que integram o projeto da Altos Labs, empresa que está a estudar o envelhecimento e como prolongar a vida com maior saúde.

Sediado em Silicon Valley, onde estão também empresas como a Apple ou a Google, o projeto tem já dois anos. Financiado por nomes como o do multimilionário Jeff Bezos, fundador da Amazon e com um orçamento avultado (de 2,7 mil milhões de euros, aproximadamente 2,4 mil milhões de euros), o Altos Labs tem levado a cabo esta missão, contratando para isso alguns dos maiores experts na área, incluindo Shinya Yamanaka, Prémio Nobel da Medicina em 2012, laureado pela sua descoberta de que as células pluripotentes, maduras e especializadas (como, por exemplo, a pele de um dedo humano). As experiências mostraram que, uma vez reprogramadas, estas células podem-se tornar células estaminais, que têm a capacidade de formar qualquer tecido do corpo humano. Tudo graças a quatro moléculas necessárias, que já permitiram a ratos de laboratório viver mais de 30% e teve, aparentemente, efeitos rejuvenescedores nos tecidos dos animais. Resta saber, no entanto, se o mesmo se aplicará às células do corpo humano.

Em declarações ao jornal espanhol, Pura Muñoz (que tem estudado a regeneração muscular) mostra-se confiante no trabalho desenvolvido até agora. Mas pede calma. "É possível voltar atrás no tempo em seres humanos", tal como já aconteceu noutras espécies. Dando o exemplo: "Já ocorreu em ratos de laboratório [sujeitos a condições in vitro, ou seja, num ambiente fechado e controlado] com envelhecimento acelerado e noutros com envelhecimento normal. A prova do conceito está exatamente aí: é possível voltar um pouco atrás no tempo. Isso dá esperança de estudar como o fazer de maneira segura. Mas há ainda um largo caminho a percorrer."

Antes, "há que perceber como ocorre" o envelhecimento. Afinal, diz Pura Muñoz, "só há experiências em ratos e células humanas. Não se sabe o que estes fatores provocam nas células" em questão, nem como fazem com que "retrocedam no tempo".

Para recrutar cientistas, a Altos oferece salários de mais de um milhão de dólares anuais. E, além de Yamanaka, a empresa recrutou também o biólogo Wolf Reik, bem como o espanhol Juan Carlos Izpisúa, conhecido pelo seu trabalho no campo da reprogramação de células. Formalmente iniciada a 19 de janeiro de 2022, o plano de operações consistia em instalar centros na baía de São Francisco e em San Diego (Califórnia, Estados Unidos) e em Cambridge, no Reino Unido. Há também a intenção de fazer algum do trabalho em território japonês.

Ao El País, Pura Muñoz defende também que, tal como aconteceu no passado, se o ser humano viver mais tempo, é previsível que isso traga, também, mais doenças associadas e que, hoje, são desconhecidas. "Há doenças que agora são comuns, como o Alzheimer, porque não se chegava até uma idade tão avançada, aos 80 ou 90 anos. Hoje desconhecemos uma série de patologias que vão aparecer quando for normal passar dos 100 anos, se essa altura chegar", diz a bióloga.

Com Portugal a ter uma população progressivamente mais envelhecida, os estudos na área começam a surgir. A Universidade de Coimbra, por exemplo, tem já o MIA (Multidisciplinar Institute of Ageing), o instituto multidisciplinar do envelhecimento.

A Universidade Nova de Lisboa tem, também, o NOVA Ageing Group, que junta várias faculdades (como Medicina ou Ciências e Tecnologias) e procura "aumentar a pesquisa, o conhecimento e a inovação no campo do envelhecimento e as condições associadas".

rui.godinho@dn.pt

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt