Kristalina, a búlgara que já desafiou Guterres e agora concorre com Centeno

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Recorda-se da irritação do presidente Marcelo Rebelo de Sousa a falar da candidata que queria ganhar a maratona a António Guterres correndo só os últimos 100 metros? Pois bem, a candidatura de última hora de Kristalina Giorgieva não conseguiu evitar a eleição do português como secretário-geral da ONU, mas isso não impede que a búlgara tenha entretanto chegado a CEO do Banco Mundial (e sido sua presidente interina entre fevereiro e abril deste ano); e que seja agora muito falada para diretora-geral do FMI, como há semanas aparecia como possibilidade para liderar a Comissão Europeia, até a escolha recair na alemã Ursula Van Der Leyen.

Eterna candidata, pois, do campo conservador a altos cargos europeus ou mundiais? Sim, mas com um currículo a justificar, sobretudo desde que a sua primeira entrada para o Banco Mundial, em 1993, serviu para mostrar a capacidade de trabalho da até então discreta professora no Instituto de Alta Economia Karl Marx, que depois do fim do comunismo na Bulgária recuperou o nome de Universidade de Economia Nacional e Mundial de Sofia.

Giorgieva, ou Kristalina como muitas vezes se referem a ela tanto admiradores como detratores, chegou a estar na calha para um cargo ministerial búlgaro, mas em 2010 o governo preferiu designá-la como comissária europeia, com a pasta da Cooperação Internacional e da Ajuda ao Desenvolvimento. O reação dos então 27 ao grande sismo no Haiti e às cheias no Paquistão valeram à comissária títulos como o de "Europeia do Ano" e foi sem grande surpresa que em 2014, quando o luxemburguês Jean-Claude Juncker assumiu a Comissão Europeia, a búlgara - que fala inglês, francês e russo - ficou como vice-presidente. Mas o seu nome, como se tornou hábito já, chegou também a ser falado nos bastidores para Alta Representante para a Política Externa.

Foi, contudo, há três anos que Giorgieva irrompeu em força na atualidade portuguesa, mundial até, como jogada de última hora para impedir a vitória anunciada do antigo primeiro-ministro socialista Guterres na corrida a sucessor do sul-coreano Ban Ki-moon. Suspeita-se que Angela Merkel, do mesmo campo político, mexeu os cordelinhos para que a Bulgária retirasse a candidatura de Irina Bokova, que nunca passara da quinta posição nas votações preliminares no Conselho de Segurança, e apresentasse Giorgieva, tudo isto com o provável beneplácito do presidente russo Vladimir Putin, convencido pela chanceler alemã. A justificar tudo isto, e mal, o suposto direito de ser um europeu de Leste a ser secretário-geral, e ainda mais o de uma europeia de Leste, em nome da igualdade de género, causa muito querida a Giorgieva, que se tem esforçado por promover quotas femininas por onde quer que passe.

Nascida a 13 de agosto de 1953, a búlgara (que em tempos também foi soprada como potencial primeira secretária-geral da NATO), tem agora uma dificuldade nova à frente na corrida ao FMI: a idade. A ser escolhida para o mandato de cinco anos, terá mais de 70 anos quando este terminar, o que os estatutos da organização financeira não permitem. Mas a França, que a apoia para substituir a francesa Christine Lagarde, já disse que isso pode ser alterado. Os outros nomes falados, incluindo o português Mário Centeno, que contem, pois, com uma rival de peso, cheia de experiência, e a quem falta um grande cargo para fechar a carreira. Ganhará desta vez Kristalina?

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