Khomeini continua uma referência no Irão 30 anos após a sua morte

Ruhollah Khomeini, considerado o pai da República Islâmica, continua a estar presente na política, nos espaços públicos e nas notas iranianas.
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O que é considerado o pai da República Islâmica, o ayatollah Ruhollah Khomeini, morreu faz na segunda-feira 30 anos, mas, segundo analistas, continua a ser uma referência de primeiro plano no Irão.

"O seu principal legado é o forte apego à independência, à soberania e à resistência à hegemonia estrangeira que continua a habitar os iranianos", disse Mohammad Marandi, diretor do departamento de estudos americanos na Universidade de Teerão, à agência France Presse.

Nascido em 1902 no centro do Irão, Ruhollah ("espírito de Deus") Khomeini morreu a 3 de julho de 1989, enfraquecido por um cancro, mais de 10 anos após o triunfo da Revolução Islâmica que expulsou o último xá do Irão, Mohammad Reza Pahlevi, aliado chave dos Estados Unidos no Médio Oriente, e quando o país saía exangue da guerra com o Iraque (1980-1988), desencadeada por Bagdad.

Khomeini seguiu estudos religiosos e só se envolveu na política em 1962, aos 60 anos. Em 1964 foi detido e forçado ao exílio, passando primeiro pela Turquia e depois pelo Iraque.

Foi neste último país, na cidade santa xiita de Najaf, que desenvolveu a teoria do "governo do jurista muçulmano ("Velayat-é faqih"), consagrando o poder de um ulema escolhido para dirigir o Estado e a comunidade de crentes, princípio na base da República Islâmica.

Segundo Marandi, o "Velayat-é faqih" já tinha sido teorizado "na jurisprudência xiita há vários séculos" e a novidade de Khomeini foi a sua capacidade de "derrubar uma ditadura apoiada pelo Ocidente" e de "por a teoria em prática".

O derrube do antigo regime iraniano foi conseguido graças a uma aliança de forças heterogéneas, que incluíam o clero xiita, apoiantes do ayatollah Khomeini, nacionalistas laicos, forças de esquerda e marxistas.

Mas o imã Khomeini mostrou-se depois intransigente, quando se tratou de defender a revolução islâmica face às outras forças e aos monárquicos.

"Para mim, Khomeini é o pragmatismo para chegar ao poder e conservá-lo e um comportamento implacável contra todos os inimigos da revolução islâmica, fossem do antigo regime ou da esquerda e da extrema-esquerda", referiu François Nicoullaud, antigo embaixador da França no Irão, à AFP.

A França foi o último país de exílio de Khomeini, foi dos subúrbios de Paris que conduziu a fase final da sua luta. Cassetes com discursos de ataque ao Xá chegavam aos seus partidários no Irão, onde as manifestações eram violentamente reprimidas nas ruas.

De Paris regressou ao Irão, após 14 anos de exílio, e foi recebido triunfalmente a 1 de fevereiro de 1979 num prenúncio da proclamação da República Islâmica exatamente dois meses depois.

A legislação do país foi baseada na 'sharia' (lei islâmica) e a nova constituição criou o cargo de guia supremo, a mais alta autoridade política e religiosa da nação, que Khomeini ocupou até à morte.

O seu mausoléu, no sul de Teerão, tornou-se num local de peregrinação, recebendo anualmente milhões de iranianos.

Clément Therme, investigador sobre o Irão no Instituto Internacional dos Estudos Estratégicos, considera que "o carisma do ayatollah (Khomeini) se perpetua no debate político" atual.

"Todas as elites políticas da República Islâmica reivindicam a sua herança política" e, "no debate político, as suas palavras tornam-se argumentos para colocar os adversários em dificuldades", declarou à AFP.

Omnipresente ainda no espaço público, dos serviços administrativos aos átrios dos hotéis, passando pelos estádios de futebol, hospitais e murais, o retrato de Khomeini também aparece na maioria das notas iranianas.

"É evidentemente uma grande figura histórica, como Estaline, Mao ou Pedro o Grande (czar russo)", indicou Nicoullaud, numa referência a três homens que mudaram radicalmente os seus países.

Marandi concorda, declarando que Khomeini "mudou verdadeiramente a sociedade iraniana, um país que estava sujeito às necessidades e interesses de entidades estrangeiras, para dar a prioridade às necessidades, dignidade, crenças, cultura e interesses da população local".

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