Kepa não é caso único. Outros jogadores que recusaram ser substituídos
O guarda-redes espanhol Kepa Arrizabalaga, do Chelsea, está debaixo de fogo por se ter recusado a ser substituído no jogo da final da Taça da Liga inglesa, que os londrinos perderam no desempate por penáltis com o Manchester City de Bernardo Silva.
O caso aconteceu pouco antes do final do prolongamento. Kepa queixou-se de um problema muscular e o treinador Maurizio Sarri tentou substituí-lo, pelo argentino Willy Caballero, mas o guarda-redes espanhol recusou-se a sair do relvado, tentado explicar que estava em condições para continuar a jogar.
Guarda-redes e treinador tentaram colocar água na fervura após o jogo, justificando que se tratou de um mal-entendido. Mas a verdade é que começaram a chover críticas de todo o lado, com vários ex-jogadores e treinadores, agora no papel de comentadores, a questionarem a falta de respeito do guarda-redes pelo seu treinador.
Esta não é a primeira que sucede um caso destes. Recorde aqui cinco situações citadas pela agência de notícias AP em que jogadores recusaram ser substituídos.
O caso protagonizado pelo argentino, em 2014, frente ao Eibar, não teve o impacto de Kepa, simplesmente porque na altura o treinador do Barcelona, Luis Enrique, aceitou a decisão do avançado argentino. Numa altura em que os catalães já venciam por 3-0, o técnico que atualmente ocupa o cargo de selecionador espanhol decidiu que estava na altura de Messi sair para descansar. E já tinha Munir El Haddadi pronto para entrar. Fez várias insistências, mas o argentino disse que não. E ficou em campo. Luis Enrique aceitou a decisão do seu melhor jogador e acabou por substituir Neymar. "As pessoas podem pensar o que quiserem, mas vou continuar a perguntar aos meus jogadores se há alguém com algum problema físico antes de fazer uma substituição. Foi o que eu fiz. Perguntei a Messi, a Neymar e a Iniesta e depois fiz a minha escolha", referiu Luis Enrique.
É uma situação em tudo comparável à de Kepa. Em 2017, num jogo frente ao Tottenham, o guarda-redes polaco que na altura defendia as redes do Swansea, chocou com um adversário aos 81 minutos. Já com a maca em campo para transportar o guardião, o treinador Paul Clement deu ordens ao guarda-redes suplente (Kristoffer Nordfeldt) para se preparar para entrar. Fabianski insistiu em ficar na baliza, apesar de agarrado às costelas. Clement mandou então entrar Nordfeldt e a placa da substituição chegou a ser levantada. Mas Fabianski recusou e o técnico acabou por desistir da troca. Resultado: o jogo que na altura estava 1-1 terminou com mais dois golos do Tottenham na baliza de Fabianski.
Esta é uma história ao contrário, o dia em que o argentino Carlitos Tévez se recusou a entrar em campo. Em setembro de 2011, num jogo da Liga dos Campeões frente ao poderoso Bayern Munique, o jogador nascido no problemático bairro de Forte Apache começou o jogo no banco de suplentes. O City estava a perder por 2-0 o treinador Roberto Mancini pediu a Tévez para entrar. Mas o avançado recusou, numa atitude que deixou o treinador italiano profundamente irritado: "Não posso aceitar que um jogador se negue a jogar, é uma situação incompreensível. Tévez não irá jogar pelo clube de novo", afirmou Mancini. Era o início de um confronto que motivou que Tévez ficasse cinco meses afastado da equipa, regressando mesmo assim a tempo (e foi determinante) na conquista do título nessa época.
No Mundial de 2018, um caso de indisciplina abalou a seleção croata, ainda na fase de grupos da prova. O avanço Nikola Kalinic foi expulso da comitiva pelo selecionador Zlatko Dalic, apenas dois dias depois da estreia no Mundial, frente à Nigéria, que terminou em vitória por 2-0. Em causa o facto de o jogador se ter recusado a entrar nos minutos finais frente à seleção africana, alegando dores nas costas, uma desculpa que não convenceu Dalic. "O Nikola preparou-se para a Nigéria, era suposto entrar na segunda parte e disse que não estava pronto. Também não estava pronto no Brasil e nos treinos de ontem. Preciso de jogadores saudáveis e em forma, por isso mandei-o embora", justificou o selecionador croata na altura.
Kepa não foi o primeiro guarda-redes a recusar sair do campo por ordem do treinador. Em 1991, Les Sealey, guardião do Manchester United, curiosamente também numa final da Taça da Liga inglesa, lesionou-se num joelho a 12 minutos do final do jogo. Mas aqui o caso teve contornos diferentes e a sua decisão até foi vista como heroica. Com o guarda-redes lesionado e sem outro no banco, Alex Ferguson preparava-se para fazer uma substituição e colocar um jogador de campo na baliza. Les Sealey respondeu negativamente e jogou visivelmente lesionado até ao fim. Não sofreu mais golos, mas o 1-0 marcado por John Sheridan aos 37 minutos foi suficiente para o Sheffield Wednesday conquistar a Taça da Liga inglesa.