Keith Jarrett revela que não deverá voltar a atuar ao vivo
Uma das grandes referências do jazz, Keith Jarrett, de 75 anos, não deverá voltar a atuar ao vivo. A possibilidade foi avançada pelo próprio pianista. Em entrevista ao The New York Times, o norte-americano revelou que sofreu dois acidentes vasculares cerebrais (AVC) em 2018 - um em fevereiro e outro em maio. As sequelas afastaram-no dos palcos.
"Fiquei paralisado. O meu lado esquerdo ainda está parcialmente paralisado. Consigo tentar andar com bengala, mas demorou muito para que isso acontecesse... um ano ou mais", afirmou.
Apesar dos esforços para tocar piano apenas com a mão direita, o regresso ao palco de um dos mais aclamados pianistas é improvável. "Não sei qual será o meu futuro. Não me sinto agora um pianista. É tudo o que posso dizer sobre isso", confidenciou Jarrett em entrevista ao jornalista Nate Chinen a propósito do álbum ao vivo Budapest Concert, gravado em 2016, que será lançado no final deste mês.
"Quando ouço música de piano tocado com as duas mãos, é muito frustrante, do ponto de vista físico. Se eu ouvir Schubert, ou algo tocado suavemente, é o suficiente para mim. Porque eu sei que não poderei fazer isso. E não é esperado que eu recupere. O máximo que se espera que eu recupere da minha mão esquerda é possivelmente a habilidade de segurar uma chávena", referiu.
A última atuação ao vivo aconteceu em 2017 no Carnegie Hall, tendo sido marcado na altura um regresso à famosa sala de espetáculos de Nova Iorque em março do próximo ano. Esse concerto e a restante agenda foram abruptamente cancelados devido aos problemas de saúde, que até agora permaneciam desconhecidos.
Jarett, que tocou no primeiro festival Cascais Jazz, em 1971, tendo atuado em Portugal em outras ocasiões, não percebeu inicialmente a gravidade da situação quando sofreu o primeiro AVC. Foi hospitalizado, conseguiu recuperar e teve alta. Meses depois, em casa, sofreu um novo AVC e foi internado numa clínica, onde esteve até maio passado.
Durante esse período, o músico tentou esporadicamente tocar piano. "Estava a tentar ser um Bach com uma mão", recordou o pianista. Já no seu estúdio em casa, escreve o The New York Times, tentou tocar algumas melodias conhecidas, mas constatou que já não se lembrava.
O norte-americano notabilizou-se pela improvisação e a combinação do jazz com vários estilos e géneros, como a música clássica, pelas colaborações com nomes "gigantes" como Miles Davis e pelos concertos a solo e com o Standards Trio, que formou em 1983 com o contrabaixista Gary Peacock e o baterista Jack DeJohnette.
O seu disco The Köln Concert, editado em 1975, tornou-se um dos álbuns a solo de piano mais vendidos do mundo, com mais de 3,5 milhões de cópias vendidas.