Kassab é que sabe
A dias do início da campanha, as eleições do Brasil para a presidência, para a Câmara dos Deputados, para um terço do Senado e para o governo dos 26 estados e do Distrito Federal vão começar a ganhar atenção internacional.
Entretanto, aqueles que as limitarem ao duelo entre Bolsonaro, o medíocre deputado de extrema-direita que ascendeu ao Planalto, e Lula, o presidente que foi do céu (aprovação de 83%) ao inferno (prisão por 580 dias) e de novo ao céu (lidera as sondagens), não entenderão a política brasileira na sua plenitude. Para a entender, Gilberto Kassab é um bom começo.
Kassab foi secretário municipal, vice-prefeito e prefeito da cidade de São Paulo, sucedendo José Serra, do PSDB, de centro-direita, e antecedendo Fernando Haddad, do PT, de centro-esquerda. E deputado federal, por seis anos, eleito pelo estado homónimo.
Foi também ministro das Cidades de Dilma, até 15 de abril de 2016, data do impeachment que a derrubou. Mas a 12 de maio do mesmo ano já assumia a pasta da Ciência, no Executivo do algoz dela, Temer.
Antes, havia fundado, em 2011, o seu partido, o Partido Social Democrático (PSD), quase homónimo do PSD português. Perguntado, no ato da fundação, se a nova força política era de direita, de centro ou de esquerda, Kassab respondeu: é de direita, de centro e de esquerda.
Onze anos depois, é o terceiro partido do Brasil em número de prefeitos e vereadores, o segundo em senadores e o quarto em deputados federais, 46, num universo de 513.
Partilha a Câmara com parlamentares do PT, do PSL, do PP, do MDB, do PR, do PSB, do PRB, do PSDB, do DEM, do PDT, do SD, do PODE, do PTB, do PSOL, do PCdoB, do PSC, do PROS, do PPS, do Novo, do Avante, do PHS, do PATRI, do PV, do PRP, do PMN, do PTC, do DC, do Rede e do PPL. Ou seja, com mais 29 formações, umas de direita, umas de esquerda, umas de centro e umas quantas, como o PSD, de direita, de centro e de esquerda, dependendo da melhor oferta.
A tendência para a direita, o pendor para o centro ou a inclinação para a esquerda não é, entretanto, diretriz nacional. O PSD de Kassab pode ser conservador nos costumes e liberal na Economia no centro-oeste e progressista no comportamento e estatizante nas Finanças Públicas no nordeste. A favor da legalização do aborto no Cerrado, na Caatinga e na Amazónia e contra o casamento gay na Mata Atlântica, na Pampa e no Pantanal, dependendo do orçamento que lhe couber.
Por isso, na corrida ao governo das 27 unidades federativas do Brasil - Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins -, Kassab costura alianças com régua e esquadro ao lado. Ou melhor: com máquina calculadora e caixa registadora. Melhor ainda: com Deus e o diabo.
Feitas as primeiras contas, Kassab já chegou a uma conclusão: na segunda eleição mais importante, para o rico e populoso Estado de São Paulo, é Tarcísio de Freitas, candidato bolsonarista, até à morte contra Haddad, perigoso lulista. Na principal, a disputa pelo Planalto, é Lula até à morte contra o nefasto Bolsonaro. Caso perca uma ou as duas apostas, muda no dia seguinte. E continuará sempre a ganhar.
Jornalista, correspondente em São Paulo