Kagame: um homem, 20 anos de guerras
A fuga da família do Ruanda, em 1959, salvou a vida de Paul Kagame. Três décadas depois, voltava ao país como homem forte da guerrilha tutsi que, no espaço de três meses, derrotara as forças do governo hutu em Kigali, a capital do país, e as milícias responsáveis pelo genocídio de 800 mil a um milhão de pessoas, entre abril e julho em 1994.
Terminava um ciclo de violência interna mas abria-se um período de intenso conflito envolvendo o Ruanda e os países vizinhos (ver gráfico na pág. seg.) em que clivagens étnicas e diferentes alinhamentos geoestratégicos vão tornar a região dos Grandes Lagos um polo de instabilidade até aos primeiros anos do século XXI. A sua origem residiu na herança deixada pelo colonizador belga no Ruanda, que privilegiou a minoria tutsi em detrimento da maioria hutu. Neste ciclo será decisivo Kagame, dirigente da ala militar da FPR, que se torna vice--presidente e ministro da Defesa a partir de 1994. E é, de facto, o homem forte do novo poder. A presidência, em 2000, quase não passa de uma formalidade para o homem que começa então a influenciar tudo o que se passa na região.