Paula Lagarto quase não precisa das perguntas para dar as respostas. É uma torrente de entusiasmo esta professora de português e inglês que há três anos, com mais duas colegas, começou esta espécie de estranha febre asiática em Almodôvar. Hoje, o grupo entretanto batizado All.Ways é um dos sete que disputam um lugar, na categoria de performance, na final do concurso mundial de K-Pop em setembro em Changwon, na Coreia do Sul.."Sabe onde fica Almodôvar? Isto é no fim do mundo", diz a bem-disposta professora Paula. Fim do mundo ou não, o que é certo é que o grupo lançado pelo trio de docentes da escola local já levou à vila alentejana um grupo de estudantes de uma universidade coreana, uma estrela da K-Pop (NC.A) e a televisão sul-coreana KBS a fazer um documentário sobre elas. Paula explica que tudo começou com sessões caseiras de cinema asiático. Uma das professoras era fã e desafiava as outras. Daí a chegar ao K-Pop não demorou muito. "Através do cinema comecei a ouvir a música, a interessar-me por um ou outro grupo e comecei a aprender sozinha aqui em casa algumas danças. Na escola mostrámos a algumas alunas, que também gostaram, e começámos de uma forma muito tímida em janeiro de 2014 a tentar preparar uma atuação.".[youtube:6ak7IsVGj5k].Uma das grandes barreiras foi a língua. Para o grupo e para a população, que aos poucos foi vendo surgir esta dança na escola e depois em espaços públicos. Hoje já são convidadas para atuar nas festas populares, mas só porque as pessoas foram percebendo o que eram as coreografias que aquelas raparigas mais e menos jovens faziam (o grupo chegou a ter rapazes mas atualmente não tem). "Ao princípio este tipo de música soava muito estranha a muita gente por causa da língua. A principal barreira foi mesmo tentar mostrar às outras pessoas o que é que isto era. Eu conhecia alguma coisa da cultura asiática mas desconhecia este mundo da K-Pop e da Coreia do Sul, portanto, digamos que foi um processo de descoberta que mudou radicalmente as nossas vidas.".O grupo de 12 elementos que hoje se apresenta no Museu do Oriente tem idades entre os 12 e os 43 anos. Têm cinco minutos para mostrar o que valem, tal como os outros. Paula sabe que é difícil, até porque a concorrência é cada vez mais forte. Além disso, o facto de serem um grupo muito grande, dificulta a sincronização perfeita. É o segundo ano em que participam..[youtube:W_nn9PqcGY4].À hora em que falava com o DN, por telefone, decorriam os ensaios em Lisboa. O grupo alentejano estava em casa, num dia de pausa dos ensaios - normalmente duas vezes por semana, no pavilhão da escola, mais intensos em vésperas de competição. As deslocações são caras e não era possível chegar mais cedo. "No ano passado, para as miúdas conseguirem ir todas de ténis iguais, andaram a pagá-los durante três meses." Dificuldades caseiras que são abafadas com o "sucesso internacional". Os vídeos do grupo estão no Youtube (procure os canais de Paula Lagarto e Sofia Pedro, duas das professoras) e as contas fazem-se em subscritores e visualizações. O canal da professora Sónia é o mais concorrido, com nove mil subscritores e muitos milhares de visualizações - tantas que Paula não se consegue lembrar do número. Seguramente mais do que alguma vez imaginaram há três anos, quando ensaiaram os primeiros passos..A K-Pop foi a porta de entrada para a descoberta da cultura coreana na escola de Almodôvar. Paula conta que três das alunas já manifestaram vontade de seguir estudos asiáticos. Duas estão a tentar o acesso à universidade este ano e querem ir viver para a Coreia..No mundo do K-Pop, dança-se, mimetiza-se os artistas favoritos, aprende-se a língua e conhece-se a cultura coreana. É esse um dos objetivos da eliminatória portuguesa do concurso, promovido pela Embaixada da República da Coreia. Jin Lee, da embaixada, esteve ontem nos ensaios e tem uma certeza: "De ano para ano o nível dos concorrentes está melhor. Empenham-se muito, está muito forte", diz ao DN. A concurso estão seis grupos no canto e sete na performance e será escolhido um vencedor de cada categoria. Após o crivo do júri internacional, podem ser apurados para a grande final mundial em setembro..[youtube:td46ci55tfQ].Quem já lá esteve foi Filipa Cardoso. A vencedora da eliminatória portuguesa em 2014, então com 19 anos enfrentou um estádio cheio, com 25 mil pessoas. Sozinha, a cantar com a sua viola a versão de Lonely do grupo 2NE1. "Foi extremamente overwhelming", recorda. Já terminou a licenciatura em Ciências da Comunicação em Lisboa e está no Conservatório Nacional. É música que quer seguir: "Quero ser artista, performer." Não esquece a experiência no mundo da K-Pop, que continua a acompanhar, entre outros estilos musicais..Esta tarde o melhor da K-Pop nacional exibe-se no Museu do Oriente, em Lisboa. A entrada é gratuita. Os bilhetes são distribuídos a partir das 10.00. No ano passado esgotaram-se em 20 minutos.