K-Pop alentejano na luta por final na Coreia

O Museu do Oriente recebe esta tarde o K-Pop World Festival. São 13 concorrentes, seis na categoria de canto, 7 na de performance, a concorrer por um lugar na grande final em setembro na Coreia. O fenómeno está a crescer em Portugal. Em Almodôvar, há um grupo que já atua nas festas populares
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Paula Lagarto quase não precisa das perguntas para dar as respostas. É uma torrente de entusiasmo esta professora de português e inglês que há três anos, com mais duas colegas, começou esta espécie de estranha febre asiática em Almodôvar. Hoje, o grupo entretanto batizado All.Ways é um dos sete que disputam um lugar, na categoria de performance, na final do concurso mundial de K-Pop em setembro em Changwon, na Coreia do Sul.

"Sabe onde fica Almodôvar? Isto é no fim do mundo", diz a bem-disposta professora Paula. Fim do mundo ou não, o que é certo é que o grupo lançado pelo trio de docentes da escola local já levou à vila alentejana um grupo de estudantes de uma universidade coreana, uma estrela da K-Pop (NC.A) e a televisão sul-coreana KBS a fazer um documentário sobre elas. Paula explica que tudo começou com sessões caseiras de cinema asiático. Uma das professoras era fã e desafiava as outras. Daí a chegar ao K-Pop não demorou muito. "Através do cinema comecei a ouvir a música, a interessar-me por um ou outro grupo e comecei a aprender sozinha aqui em casa algumas danças. Na escola mostrámos a algumas alunas, que também gostaram, e começámos de uma forma muito tímida em janeiro de 2014 a tentar preparar uma atuação."

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Uma das grandes barreiras foi a língua. Para o grupo e para a população, que aos poucos foi vendo surgir esta dança na escola e depois em espaços públicos. Hoje já são convidadas para atuar nas festas populares, mas só porque as pessoas foram percebendo o que eram as coreografias que aquelas raparigas mais e menos jovens faziam (o grupo chegou a ter rapazes mas atualmente não tem). "Ao princípio este tipo de música soava muito estranha a muita gente por causa da língua. A principal barreira foi mesmo tentar mostrar às outras pessoas o que é que isto era. Eu conhecia alguma coisa da cultura asiática mas desconhecia este mundo da K-Pop e da Coreia do Sul, portanto, digamos que foi um processo de descoberta que mudou radicalmente as nossas vidas."

O grupo de 12 elementos que hoje se apresenta no Museu do Oriente tem idades entre os 12 e os 43 anos. Têm cinco minutos para mostrar o que valem, tal como os outros. Paula sabe que é difícil, até porque a concorrência é cada vez mais forte. Além disso, o facto de serem um grupo muito grande, dificulta a sincronização perfeita. É o segundo ano em que participam.

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À hora em que falava com o DN, por telefone, decorriam os ensaios em Lisboa. O grupo alentejano estava em casa, num dia de pausa dos ensaios - normalmente duas vezes por semana, no pavilhão da escola, mais intensos em vésperas de competição. As deslocações são caras e não era possível chegar mais cedo. "No ano passado, para as miúdas conseguirem ir todas de ténis iguais, andaram a pagá-los durante três meses." Dificuldades caseiras que são abafadas com o "sucesso internacional". Os vídeos do grupo estão no Youtube (procure os canais de Paula Lagarto e Sofia Pedro, duas das professoras) e as contas fazem-se em subscritores e visualizações. O canal da professora Sónia é o mais concorrido, com nove mil subscritores e muitos milhares de visualizações - tantas que Paula não se consegue lembrar do número. Seguramente mais do que alguma vez imaginaram há três anos, quando ensaiaram os primeiros passos.

A K-Pop foi a porta de entrada para a descoberta da cultura coreana na escola de Almodôvar. Paula conta que três das alunas já manifestaram vontade de seguir estudos asiáticos. Duas estão a tentar o acesso à universidade este ano e querem ir viver para a Coreia.

No mundo do K-Pop, dança-se, mimetiza-se os artistas favoritos, aprende-se a língua e conhece-se a cultura coreana. É esse um dos objetivos da eliminatória portuguesa do concurso, promovido pela Embaixada da República da Coreia. Jin Lee, da embaixada, esteve ontem nos ensaios e tem uma certeza: "De ano para ano o nível dos concorrentes está melhor. Empenham-se muito, está muito forte", diz ao DN. A concurso estão seis grupos no canto e sete na performance e será escolhido um vencedor de cada categoria. Após o crivo do júri internacional, podem ser apurados para a grande final mundial em setembro.

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Quem já lá esteve foi Filipa Cardoso. A vencedora da eliminatória portuguesa em 2014, então com 19 anos enfrentou um estádio cheio, com 25 mil pessoas. Sozinha, a cantar com a sua viola a versão de Lonely do grupo 2NE1. "Foi extremamente overwhelming", recorda. Já terminou a licenciatura em Ciências da Comunicação em Lisboa e está no Conservatório Nacional. É música que quer seguir: "Quero ser artista, performer." Não esquece a experiência no mundo da K-Pop, que continua a acompanhar, entre outros estilos musicais.

Esta tarde o melhor da K-Pop nacional exibe-se no Museu do Oriente, em Lisboa. A entrada é gratuita. Os bilhetes são distribuídos a partir das 10.00. No ano passado esgotaram-se em 20 minutos.

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