Esta semana foi profícua em casos judiciais de uma significativa dimensão política, com repercussões na percepção que a população portuguesa tem na eficácia da Justiça (ou na falta dela) e no combate aos casos de corrupção e tráfico de influências..Nada mais, nada menos, do que um ex-banqueiro em fuga, um ex-ministro em prisão preventiva e três ex-governantes, alegadamente envolvidos na questão das PPP"s rodoviárias,.João Rendeiro, com processos judiciais que somam 19 anos e dois meses, devido a uma inexplicável desatenção e laissez faire, laissez passer das autoridades judiciais, planeou cuidadosamente uma fuga que esta semana acabou com a sua detenção numa das mais perigosas prisões da África do Sul. Por outro lado, o ex-ministro Manuel Pinho, detido para interrogatório, e indiciado por ter favorecido a EDP na questão das rendas e nas concessões das barragens..E, finalmente, três ex-ministros que não vão sentar-se no banco dos réus, porque terem prescrito os prazos para os acusar..O problema da corrupção e do tráfico de influências vai, seguramente, constituir um dos pontos centrais da agenda política da campanha eleitoral das próximas eleições legislativas de 30 de Janeiro. Os partidos terão de esclarecer quais as novas propostas mais actuantes e eficazes para um combate efectivo à corrupção e ao tráfico de influências, evitando surgirem novos casos, de legislatura para legislatura..Uma parte da sociedade portuguesa vê-se sufocada e empobrecida por um realidade que há anos mina o tecido social, cria descrédito na população séria e honesta que, com sacrifício, vive o seu quotidiano de dificuldades, pagando os seus impostos e enfrentando, diariamente, os obstáculos da vida..A Polícia Judiciária, certamente um dos mais prestigiados braços operacionais da máquina da Justiça, desencadeou com reconhecido sucesso uma acção que levou à detenção de João Rendeiro. Mas é a montante que os dossiers da Justiça devem ser resolvidos..Como entender a prescrição de importantes casos judiciais como o das PPP"s envolvendo três ex-governantes? Ou, como é possível, a Justiça permitir a fuga de um banqueiro com reconhecidos contactos internacionais e dotado de significativos meios financeiros e materiais, deixando-o viajar, tranquilamente, várias vezes, para fora de Portugal..As consequências desta atitude judicial aí estão, com Portugal nas "bocas do mundo" pelas piores razões, com um esforço adicional da PJ para remediar a situação, com um dispêndio de meios humanos, materiais, financeiros, que poderiam estar alocados a outros casos, se a Justiça, a montante, tivesse actuado com eficácia e assertividade e tivesse recolhido o passaporte de João Rendeiro ou lhe tivesse aplicado uma medida de coação que o impedisse de deixar o país..Compete ao poder político desenhar as leis que regem o sistema judicial. Claro que a Justiça é independente do poder político, mas é este que constrói as ferramentas que essa mesma Justiça vai aplicar. O que, manifestamente, não tem sido feito, com a eficácia desejada, como é patente no atraso verificado em tantos processos judiciais..Aos portugueses cabe, nas próximas eleições fazer as melhores escolhas político-partidárias que deem garantias da criação de legislação e instrumentos eficazes, certeiros, no combate à corrupção e ao tráfico de influências..A Justiça, a exemplo do que acontece noutros países da União Europeia, tem de ser uma máquina bem oleada, rápida, discreta, independente, linear, equilibrada e acima de qualquer suspeita de favorecimento a classes sociais ou a grupos de pressão política..E não este constante alarido, sobressalto, falhas, aos tropeções, com altos e baixos no seu exercício. Será assim tão difícil?. Jornalista