"Juramento de Hipócrates não permite aos médicos aceitar a eutanásia"

Germano de Sousa, ex-bastonário dos médicos, critica deputados por se preocuparem com eutanásia e não com o investimento e condições para os cuidados paliativos
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"O juramento de Hipócrates, que é a essência de qualquer médico, não nos permite aceitar a eutanásia". A frase é de Germano de Sousa, médico, ex-bastonário da classe, e foi proferida esta manhã num debate em Lisboa sobre o fim de vida, organizado pela Plataforma Pensar e Debater, no mesmo dia em que se soube que o atual bastonário e alguns dos anteriores solicitaram ao Presidente da República uma audiência para o alertarem para o assunto, com debate marcado para o Parlamento no dia 29 de maio.

Germano de Sousa, que se tem manifestado contra a legalização da eutanásia, defendeu: "Nós médicos não podemos aceitar a eutanásia"., revelando conhecer muitos profissionais que a defendem, mas que depois confrontados com a situação hipotética, de a praticar, acabam por dizer que não. "Então, depois aprovamos uma lei e é só para os outros a aplicarem?"

O ex-bastonário criticou os deputados pelo facto de avançarem com propostas de lei "tão importantes do ponto de vista civilizacional sem as terem integrado nos programas eleitorais." Os portugueses, ou quem os elegeu, "não sabiam que eles iriam debater e votar uma legislação sobre este tema", disse. "Não é a mesma coisa que aprovar uma lei sobre impostos", argumentou. O ex-bastonário, que falou da sua experiência enquanto médico, questionou mesmo: "Não vejo os senhores deputados tão preocupados com o facto de Portugal não ter uma rede de cuidados paliativos suficiente, com o investimento que falta para esta área e com as condições que o Estado ainda não criou em termos de cuidados paliativos."

O médico alertou para o facto de o debate, mesmo no domínio da bioética, se estar a extremar, ao ponto de haver "bioéticos de esquerda radical, por exemplo, no Canadá, que já defendem que "um médico não tem direito à objeção de consciência, porque tem a obrigação de cumprir com o que o Estado determina."

Durante a sessão, a Plataforma Pensar e Debater revelou os resultados de um estudo que solicitou a uma empresa de mercado, com base em vários estudos que já forma feitos em França pelo Instituto Europeu de Bioética, para saber qual é a opinião dos portugueses sobre o fim de vida. Segundo Sofia Guedes da Plataforma este estudo, bem como o debate de hoje, têm como objetivo poder esclarecer a opinião pública e os deputados sobre o que pensa a sociedade civil acerca deste assunto. "É muito importante que os deputados estejam esclarecidos sobre a vontade do povo português", referiu.

De acordo com o estudo apresentado - realizado a nível nacional, a um universo de 624 pessoas, por telefone e de forma aleatória e com estratificação de género, idade e região - mais de 40% dos inquiridos assume saber o que são os cuidados paliativos e que no final da vida têm sobretudo receio do sofrimento, de ser um peso para a família e da solidão. O mesmo estudo revela que 85% das pessoas ouvidas prefeririam ter acesso a cuidados paliativos em situações de sofrimento, tendo 75% considerado que deveria ser aumentado o investimento neste tipo de cuidados.

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