Junta militar e líderes da contestação civil assinam acordo de partilha de poder no Sudão
Os generais que assumiram o poder no Sudão após o golpe de abril que depôs o presidente Omar al-Bashir e os líderes do movimento de contestação civil assinaram um acordo para a partilha de poder durante um período de transição, segundo a AFP.
A discussão continua nos próximos dias referente aos outros pontos em disputa, depois de um acordo ter sido alcançado entre ambas as partes a 5 de julho.
A "declaração política" foi assinada após uma noite de intensas discussões num hotel de luxo de Cartum. O número dois do Conselho Militar no poder, Mohamed Hamdan Daglo (conhecido como Hemeidti), que também é comandante das temidas Forças de Suporte Rápidas (RSF), destacou o momento "histórico".
"Hoje, concordámos com a declaração política", disse à AFP Ibrahim Al Amin, um dos líderes da contestação. "Para o documento constitucional, vamos retomar as negociações na sexta-feira", acrescentou.
Este acordo é o primeiro passo na direção de um governo civil, exigido pelos sudaneses há quase sete meses. Prevê a criação de um "conselho soberano", órgão responsável por gerir durante um pouco mais de três anos a transição.
O conselho, baseado no princípio da divisão de poderes, será composto por cinco militares e seis civis, incluindo cinco da Aliança pela Liberdade e da Mudança (ALC), que esteve à frente da contestação.
Os militares vão presidir ao processo de transição durante os primeiros 21 meses, com os civis a assumir os restantes 18.
As conversações entre os dois lados foram adiadas várias vezes nos últimos dias, incluindo a questão da imunidade para os militares. Os civis alegavam que estes exigiam "imunidade absoluta" de uma eventual acusação após a violência contra as manifestações.
"Recusamos a imunidade absoluta que os militares no poder exigiam", disse Ismail al-Taj, porta-voz da Associação de Profissionais do Sudão, que fazia parte dos protestos. Este tema será discutido nas próximas reuniões.
O Sudão foi abalado por um movimento de protesto a 19 de dezembro de 2018, depois de o governo decidir triplicar o preço do pão. A tensão entre os militares e os manifestantes aumentou depois de, a 3 de julho, os primeiros terem recorrido à violência para esvaziar o campo instalado desde abril frente à sede do exército de Cartum. Esta operação deixou dezenas de mortos, centenas de feridos e protestos internacionais.
Após meses de negociação, um projeto de acordo foi alcançado a 5 de julho, graças à intensa mediação da União Africana e da Etiópia.