Juncker: avanços no brexit em outubro só se for por milagre
A primeira-ministra britânica, Theresa May, afirmou ontem que foram feitos "bons progressos" nas negociações com a UE sobre o brexit. Mas para o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, só por "milagre" é que haverá até ao final de outubro progressos suficientes nas negociações que permitam iniciar a discussão sobre uma futura relação bilateral. Declarações feitas um dia depois do fim da quarta ronda de negociações, uma vez mais com progressos tímidos.
"Daqui até final de outubro não teremos progressos suficientes, a não ser que aconteça um milagre", disse ontem Juncker à entrada para uma cimeira de líderes da União Europeia em Tallinn, a capital da Estónia. "Estou satisfeita por as negociações terem conhecido progressos e estou desejosa de desenvolver uma relação profunda e especial com a União Europeia, que considero que não é só do interesse do Reino Unido, mas também da UE", defendeu May, minutos depois, no mesmo local.
A UE a 27 decidiu desde o início que só aceita discutir com Londres o quadro do futuro relacionamento, designadamente na área do comércio, depois de acertados os termos da saída. Na semana passada, May pediu uma transição de dois anos após a saída do Reino Unido, mas Bruxelas respondeu que esta questão só será tida em conta após os termos do divórcio.
Mas enquanto se negoceia em Bruxelas, os bancos da União Europeia já foram avisados de que podem enfrentar grandes perdas de capital se o bloco e o Reino Unido não acordarem sobre como tratar as suas dívidas para a absorção de perdas após o brexit, anunciou ontem a Autoridade Bancária Europeia, a agência reguladora da UE para o sistema financeiro.
Segundo as novas regras bancárias adotadas para reduzir os custos para os contribuintes em caso de uma crise bancária, os credores da UE são obrigados a emitir uma quantidade suficiente de dívida que seria anulada, ou resgatada, para absorver perdas se falharem.
O supervisor europeu estima que 276 mil milhões de euros de dívida terão de ser emitidos pelos bancos da União Europeia para cumprir os critérios de regulação, avisando que os mercados poderão ter dificuldade em absorvê-los. E o brexit poderá tornar as coisas mais complicadas.
A maioria dos bancos comunitários emitiram capital absorvente de perdas de acordo com a lei britânica, o que poderá torná-lo incompatível com as regras da UE sobre resgates bancários no caso de um hard brexit, alertou ontem Andrea Enria, presidente da Autoridade Bancária Europeia. "O que vai acontecer a estes instrumentos se o Reino Unido se tornar num país terceiro? Os bancos precisam de começar a pensar nisso e as autoridades precisam de preparar-se", afirmou Enria. "Já começámos a alertar os bancos" sobre estes possíveis riscos, disse, por seu turno, Elke König, que lidera o Conselho Único de Resolução, organismo da que supervisiona a resolução dos bancos insolventes.