Jovens sírios tentam esquecer a guerra a praticar parkour

Destreza física e perícia são essenciais para a prática da modalidade. O parkour é mesmo perigoso - com ou sem guerra.
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Saltam sobre telhados bombardeados e pulam de janelas esventradas. O grupo de jovens percorre e atravessa uma série de edifícios delapidados por seis anos de guerra na cidade de Inkhil, no Sul da Síria. São praticantes de parkour, modalidade que utiliza apenas as capacidades motoras do corpo humano, para ultrapassar obstáculos, nesta cidade sob controlo dos rebeldes.

Para eles, é uma forma de escape a prática desta disciplina física que envolve a corrida, o salto e a escalada de edifícios e outros obstáculos, cuja designação provém da palavra francesa parcours (percurso).

"Quando salto de um edifício, sinto-me livre e adoro a sensação", diz Muhannad al-Kadiri, de 18 anos. "Gosto de competir com os meus amigos para ver quem consegue realizar o salto mais alto." Este grupo de cerca de 15 jovens pratica parkour há dois anos, muitas vezes treinando nos pátios das escolas e noutros locais, em dias em que não há combates na parte da cidade onde habitam. Inkhil está localizada numa zona da frente de combate entre as milícias da oposição e as forças do regime de Damasco e tem sido alvo de bombardeamentos aéreos. Os percursos de parkour também causam baixas, e alguns membros do grupo já partiram ossos, sofreram equimoses e até um pescoço partido durante os treinos. Os jovens fotografam-se e filmam-se e publicam estas imagens no Facebook.

"O parkour é realmente excitante e depende de um bom estado físico e perícia", diz Ayman, que está a assistir a um treino. "Mas é perigoso especialmente porque eles fazem percursos em áreas atingidas pela guerra. Espero que melhorem as suas técnicas e aprendam novos movimentos."

A modalidade do parkour nasceu em França nos anos 1980 designada como art du déplacement (arte da deslocação) e tem vindo a ganhar popularidade. Em janeiro, a Grã-Bretanha tornou-se o primeiro país a reconhecê-la como desporto. Para Kadiri, "o parkour faz-nos esquecer a guerra, a dor e a tristeza. Faz-nos sentir personagens míticas", conclui o jovem sírio.

Alaa Al-Faqir, jornalista da Reuters, em Inkhil

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