Numa carta aberta publicada hoje no jornal Público com o título Novos Olhares: Carta aberta dos jovens realizadores, assinada por cineastas como João Salaviza, Diogo Costa Amarante, Cláudia Varejão, João Nicolau e Salomé Lamas, defendem que o ICA deve "ter a responsabilidade pela política cultural que apoia e promove o cinema português"..A carta é publicada numa altura em que a tutela está a rever a regulamentação da lei do cinema e audiovisual, que tem causado discordância no setor por causa do papel da SECA na escolha de júris dos concursos de apoio financeiro do ICA..A SECA integra vários representantes de exibidores, distribuidores, produtores, realizadores, argumentistas e dos canais e operadores de televisão, sendo estes alguns dos financiadores, porque pagam anualmente taxas de exibição que financiam o setor..Os realizadores assinam o documento também num momento em que a Cinemateca programa um ciclo que recorda algum do cinema português feito nas últimas décadas por cineastas nascidos depois da revolução de 1974.."Esta expressiva participação [no ciclo da Cinemateca] é possível porque existiu um Instituto do Cinema e Audiovisual que correu o risco saudável de apoiar muitos destes primeiros projetos, respeitando a diversidade de propostas estéticas, mesmo perante filmes que se recusavam a obedecer a regras, imposições e à normativização do olhar", lê-se na carta aberta..Os realizadores pronunciam-se "com a urgência de uma geração que se recusa a assistir passivamente à destruição de uma política cultural que defendia o bem público" e acrescentam: "Para quem, como nós, nasceu e cresceu em Democracia, é um acontecimento inédito ver um organismo público como o ICA ser tomado de assalto e instrumentalizado desta forma, perdendo a sua independência, e regredindo a um estágio de menoridade jurídica, política e intelectual"..Como tal, discordam da atribuição "à SECA [da] nomeação de júris para os concursos de apoio ao cinema", que consideram "uma forma de desresponsabilização do próprio ICA, que fica refém de interesses corporativos e de um perigoso lobbying, reduzindo-o a um mero distribuidor de dinheiros públicos"..Por outro lado, acreditam que "esta forma nada transparente de gerir dinheiros públicos é absolutamente contraditória para com as políticas deste Executivo noutras áreas, chocando com as boas práticas na gestão e aplicação de dinheiros públicos que o atual Governo afirma defender"..A tutela fez saber no início deste ano que a nova regulamentação da lei do cinema e audiovisual já só terá efeitos nos concursos financeiros de 2018..No entanto, ainda não foi publicado o calendário de concursos nem a declaração de prioridades de 2017 e cujas regras de escolhas de projetos a apoiar serão ainda de acordo com a atual lei.