Jovem português desaparecido há mais de duas semanas

Volodymyr Lavriv, 25 anos, com dupla nacionalidade portuguesa e ucraniana, não dá notícias desde dia 3
Publicado a
Atualizado a

Os apelos nas redes sociais para encontrar Volodymyr Lavriv sucedem-se. Ninguém sabe dele já lá vão mais de duas semanas. A mãe, Galyna, falou com ele pela última vez no dia 3 de outubro, depois de telefonemas nos dois dias anteriores que não a tranquilizaram. Pelo contrário, o filho parecia agitado.

O jovem, 25 anos, estudante de Medicina em Lisboa, tinha viajado para Londres. Uma viagem que a mãe desconhecia e cujas razões ele não esclareceu. A conta bancária, descobriu Galyna entretanto, ficou a zeros.

Com dupla nacionalidade (ucraniana e portuguesa), o jovem era estudioso e dedicado ao curso de medicina.

As autoridades portuguesas e britânicas já foram alertadas para o desaparecimento do jovem, que veio emigrado para Portugal ainda antes de iniciar o primeiro ciclo.

No Facebook, a mãe tem feito inúmeros apelos e pedidos de ajuda.

A irmã, Daryna Lvriv, também mora e Lisboa e também é estudante de Medicina. A mãe, uma antiga bailarina, vive atualmente em Paris.

Em 2012, a história de Daryna e Volodymyr Lavriv em Portugal foi contada nas páginas no DN. Uma reportagem de Célia Rosa que agora recuperamos.

Os irmãos Daryna e Volodymyr, de 19 e 20 anos, chegaram no verão de 2001, a tempo do primeiro dia de aulas na escola do primeiro ciclo de Fonte do Oleiro, uma pequena povoação no concelho de Porto de Mós, em Leiria. Hoje são alunos da FMUL. Ela entrou neste ano letivo, está no primeiro ano. Ele leva um ano de avanço, está no segundo. «Não combinámos, foi uma casualidade escolhermos o mesmo curso», diz Daryna num português irrepreensível.

Os dois têm bem guardado na memória o dia da chegada a Portugal. Sabiam pouco do país, mas gostaram da luz, do calor e do azul do mar da Nazaré. E estavam de novo com os pais, que tinham partido dois anos antes.

Daryna e Volodymyr adaptaram-se muito bem e o desconhecimento da língua foi o obstáculo a ultrapassar. "Não sabíamos português mas vínhamos muito bem preparados nas outras matérias, especialmente na matemática", diz ela. O irmão concorda e afirma que o que aprendeu até ao terceiro ano na Ucrânia lhe serviu até ao quinto em Portugal. E dois anos depois, já tinha cincos nos testes de português. E no final do segundo ano ganhou um concurso literário organizado pela Câmara Municipal de Ourém. Volodymyr diz que já escreve melhor em português e a verdade é que já não se sente ucraniano. "Sinto-me português, tenho nacionalidade portuguesa, partilho os costumes e valores portugueses. Sou português. Gosto de fado, de sardinhas e de bacalhau, de Eça e de Pessoa. Também leio Miguel Sousa Tavares e José Rodrigues dos Santos. E sinto saudade e sou contra o acordo ortográfico. Ser português também é isto, não é?"

Daryna partilha alguns dos sentimentos e gostos do irmão - a sardinha é que não! - e também optou pela nacionalidade portuguesa. "Tenho mais referências de Portugal do que da Ucrânia. Estudo cá, os meus amigos são de cá, falo português com todas pessoas. Ucraniano só com os pais. Somos portugueses de corpo e alma, como vocês dizem." Em Lisboa, os irmãos não se veem com muita frequência. Vivem em apartamentos diferentes, que partilham com colegas, e além dos encontros rápidos na faculdade só se reúnem nas férias, altura em que continuam a estudar ou trabalham em cafés e restaurantes. O trabalho não os assusta. Daryna entrou na faculdade com média de 18,98 valores. "Não foi difícil mas tive de estudar. Hoje faço o mesmo, Medicina é um curso muito interessante mas muito trabalhoso."

Como grande parte dos imigrantes originários do Leste da Europa, os pais de Daryna e Volodymyr tinham boa formação e boas profissões. A mãe era bailarina, o pai é engenheiro de eletricidade e alta tensão. Cá, a mãe trabalha numa fábrica de costura, mas também dá aulas de dança em coletividades na região de Porto de Mós, onde a família comprou casa e mora desde que chegou a Portugal. Entretanto, a crise económica e financeira que afeta Portugal já deixou lastro nesta família. "O pai trabalhava na indústria de moldes mas a fábrica fechou e teve de partir para França. Voltou a emigrar", afirma Volodymyr.

Não fosse o nome, Volodymyr passava bem por português. A irmã não. Loira, tez branca, olhos azuis e aparência eslava, até conta que já se sentiu discriminada pela cor do cabelo. "Em pequena, na escola, todos olhavam para mim como se fosse uma loira burra. Houve uma altura em que quis pintar o cabelo, a minha mãe é que não deixou. Ainda bem!" Quando acabar o curso Daryna quer entrar na especialidade de obstetrícia e ginecologia. Volodymyr sonha ser cirurgião cardiotorácico.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt