José Serra amplia vantagem em São Paulo após escândalo
O candidato do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) ao governo de São Paulo, José Serra, deveria ser o principal prejudicado com a divulgação do dossier com alegadas provas da sua ligação ao escândalo de corrupção conhecido por "mafia das sanguessugas". Contudo, com o centro das atenções virado para o suposto esquema do Partido dos Trabalhadores (PT) para a compra do material - e o envolvimento de várias colaboradores da campanha do Presidente Lula da Silva -, Serra acabou por ser um dos principais beneficiados.
De acordo com a última sondagem do instituto Datafolha, o antigo prefeito de São Paulo tem agora mais cinco pontos de vantagem sobre Aloizio Mercadante, o candidato do PT, e a possibilidade de vencer logo à primeira volta. O tucano passou dos 48% para 51% das intenções de voto, enquanto o petista caiu dois pontos para os 21%. Segundo o director do instituto, Mauro Paulino, citado pelo jornal Folha de São Paulo, o distanciamento entre Serra e Mercadante dá-se devido à crise deflagrada pelo caso do dossier: "Se essa crise prejudicou alguém foi o Mercadante."
O caso começou com a detenção de duas pessoas (uma das quais do PT) com cerca de 1,7 milhões de reais que seriam utilizados na compra de um dossier com informações contra membros do PSDB. Depois, surgiu a publicação de uma reportagem na revista IstoÉ, na qual os principais acusados no caso da compra inflaccionada de ambulâncias, envolviam Serra - ex-ministro da Saúde - na "mafia das sanguessugas". As provas incluíam vários documentos e um vídeo de uma cerimónia de entrega de ambulâncias em que aparece o candidato.
O problema é que desde o início ficou a saber-se que a compra do "dossier Serra" teria sido negociada por membros do PT. O assessor de Mercadante, Hamilton Lacerda - que acabou por se demitir -, admitiu ter negociado com a revista a divulgação do material, a pedido de Jorge Lorenzetti, ligado à campanha de Lula. O caso ganhou então novo fôlego com o envolvimento de vários homens do Presidente, que acabaram também por ser afastados - como o líder do PT, Ricardo Berzoini.
Críticas
No meio de tudo isto, tanto Serra como o candidato do PSDB à presidência, Geraldo Alckmin, acabaram por sair beneficiados de mais um escândalo de corrupção que envolvia o PT - não é ainda conhecida, por exemplo, a origem do dinheiro utilizado para a compra do dossier. A oposição está por isso a aproveitar os últimos cartuchos da campanha eleitoral para atacar Lula. Hoje, ambos estarão presentes na iniciativa "Acto por um Brasil Decente", que espera reunir mais de três mil pessoas na zona norte de São Paulo.
Segundo as sondagens do Datafolha, e a menos de uma semana das eleições, a vantagem de Lula não pára de diminuir. O Presidente consegue agora 47% das intenções de voto, contra 33 de Alckmin. Há três dias, Lula tinha 49% e o candidato do PSDB 30%. A reeleição à primeira volta, dada por muitos como certa no início do mês, surge agora cada vez mais difícil.
O grande desafio para Lula é o último debate eleitoral, marcado para quinta-feira na Globo. Se a descida nas sondagens se mantiver, e apesar de saber que será alvo dos ataques de todos os adversários, Lula admite estar presente - o Presidente esteve ausente de todos os debates televisivos até agora. "Este caso mudou o clima da campanha e na pior hora possível", disse um ministro sob anonimato ao Correio Braziliense.