José Eduardo dos Santos regressa a Angola após tratamentos em Espanha
O governo angolano confirmou que o presidente José Eduardo dos Santos, que regressou ontem ao final da tarde a Luanda após uma ausência de 28 dias, esteve a receber tratamento médico em Espanha. Contudo, negou os rumores de que o líder de 74 anos, 37 dos quais no poder, tenha sofrido um acidente vascular cerebral (AVC).
José Eduardo dos Santos e a primeira-dama, Ana Paula dos Santos, foram recebidos no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, ao final da tarde de ontem, pelo vice-presidente Manuel Vicente e pelo presidente da Assembleia Nacional, Fernando da Piedade Dias dos Santos, entre outras entidades, para os habituais cumprimentos de boas-vindas. Fotos da chegada foram publicadas pela agência de notícias Angop.
O regresso ocorreu no dia em que, pela primeira vez, um membro do governo confirmou oficialmente que o chefe de Estado recebe tratamento médico em Espanha, para onde viaja regularmente, várias vezes por ano, desde pelo menos 2013. Questionado sobre a saúde do presidente, o ministro das Relações Exteriores, Georges Chikoti, disse à rádio francesa RFI: "Está tudo bem. Mas sabe, na vida, isso acontece com todos nós em algum momento, não nos sentirmos totalmente bem. Mas ele está bem. Está em Espanha e quando ficar melhor vai regressar."
Depois, tendo-lhe sido pedido que confirmasse as notícias da imprensa angolana que indicavam que o presidente teria sofrido um AVC, o ministro acrescentou: "Não, eu não confirmo. Mas o presidente José Eduardo dos Santos faz regularmente as suas consultas e os seus tratamentos em Espanha, por isso é perfeitamente normal que ele esteja lá." O ministro falou dos problemas de saúde do presidente numa entrevista para a RFI sobre os conflitos étnico-políticos na vizinha República Democrática do Congo.
José Eduardo dos Santos deslocou-se a 1 de maio a Barcelona para uma visita privada, informou na altura a Casa Civil da Presidência. Na nota distribuída então à imprensa, dizia-se que o chefe de Estado havia interrompido a sua estada naquele país, em novembro de 2016, na sequência do falecimento, por doença, do seu irmão mais velho, Avelino dos Santos, na África do Sul.
Face aos insistentes rumores sobre o agravamento do estado de saúde do presidente, no poder desde setembro de 1979, alguns partidos da oposição angolana tinham vindo a público exigir uma clarificação oficial sobre o assunto. Face à falta de informações, começaram a surgir rumores. A empresária Isabel dos Santos desmentiu a 13 de maio notícias sobre o agravamento do estado de saúde do pai, através de duas mensagens na rede social Instagram. Numa delas, a empresária e presidente do conselho de administração da petrolífera estatal angolana Sonangol questionava "com que propósito continuam a insistir em divulgar notícias falsas sobre a saúde do #PRAngola", ilustrando-a com a imagem "Notícias Falsas".
Eleições
Antes de viajar para Espanha, o presidente convocou, por decreto de 25 de abril, as eleições gerais em Angola para 23 de agosto, que servem para eleger, além dos deputados à Assembleia Nacional, também, por via indireta, o novo chefe de Estado. Pela primeira vez, após 37 anos no poder, José Eduardo dos Santos não concorre às eleições, tendo nomeado o atual ministro da Defesa, João Lourenço, como candidato do partido à presidência. A Constituição angolana prevê que o cabeça-de-lista do partido mais votado em eleições gerais seja automaticamente nomeado presidente.
Apesar de deixar a presidência, José Eduardo dos Santos vai continuar a liderar o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), no poder desde a independência, o que para muitos angolanos significa que irá continuar a exercer influência política no país. Lourenço, de 63 anos, é desde agosto de 2016 o vice-presidente do partido.
Entretanto, a UNITA, o maior partido da oposição, convocou para sábado uma manifestação para exigir que a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) inicie um novo processo contratual das empresas que prestam apoio tecnológico às eleições. Em causa estão alegadas ilegalidades no procedimento contratual da SINFIC (portuguesa) e da INDRA (espanhola) para a elaboração dos cadernos eleitorais e o credenciamento dos agentes eleitorais e fornecimento de material de votação e da solução tecnológica. A UNITA considera que não estão criadas as condições para a realização de eleições e que a conduta da CNE na organização "ofende os princípios da democracia, da legalidade, da lisura e da transparência". Com Lusa