"Tu cantas bué bem, mas não contes isto à polícia, senão levas um tiro." Terá sido com este ultimato que os dois homens que sequestraram e roubaram José Cid, na madrugada de domingo convenceram o cantor de 68 anos a não apresentar queixa às autoridades. "A verdade é que eles não me fizeram mal nenhum. Vou apresentar queixa do quê? Eu dou é graças a Deus de estar vivo", disse ontem ao DN, garantindo que continua "traumatizado" com a violência do assalto de que foi vítima..José Cid, com 68 anos, fala de uma hora de "autêntico terror", com um arma apontada à cabeça, que começou às 02.30 de domingo, a 150 metros da casa de Proença de Carvalho, no Alto do Estoril, onde o músico jantou com o advogado e com outros artistas para preparem um espectáculo para a Universidade de Coimbra, agendado para 26 de Março. Mas o regresso a casa havia de ficar marcado pelo pânico. "Durante uma hora eu não sabia se ia morrer, se me iam bater, ou se me iam cortar um dedo, porque o anel estava apertado e não saia", recordou..Foi quando abrandou a velocidade da sua viatura à chegada a um cruzamento, que seria surpreendido pelo duo de encapuzados, empunhando duas pistolas. Um era português e o outro brasileiro. Nem ousou pensar em resistir ao carjacking. "Cada um foi pelo seu lado do meu carro e não deram hipótese de nada. O que faz uma pessoa numa estrada daquelas em que não havia mais ninguém? Aquilo é o lugar ideal para assaltos destes", relata. .Os assaltantes mandaram-no deitar-se de bruços no banco traseiro, sendo que um deles se deitou sobre o cantor, avisando-o que se falasse levava um tiro. O homem que assumiu o volante partiu a grande velocidade quando a vítima decidiu identificar-se. "Eles não sabiam quem eu era. Eu disse-lhes que era o José Cid e pedi-lhes que não me fizessem mal, porque tinha ali dinheiro." Esta revelação terá ajudado a acalmar os dois indivíduos, sendo que o português foi confirmar se seria mesmo o autor de "20 anos", mostrando-se surpreendido, enquanto elogiava os dons vocais do cantor e contava ao cúmplice que tinham acabado de atacar uma figura pública.. Mas o duo acabou por conduzir a viatura até Almada, levando o artista a pensar tratar-se de um rapto. Contudo, os assaltantes cruzaram o Tejo apenas para consumarem o roubo dos 500 euros que Cid tinha na carteira. "Também queriam multibanco e cartões de crédito, mas isso não havia, como eles puderam verificar", revelou. Até que cerca de das 03.30 ouviu a "frase mágica". "Suspirei de alívio quando me disseram que não me iam matar e que se iam embora", relembrou ainda de voz trémula, tendo ficado a assistir à fuga dos seus sequestradores, que lhe deixaram o carro e o telemóvel.