José Carlos Castro: O galã teimoso que não queria ser jornalista
"À primeira vista não gostam dele. Mas depois toda a gente gosta." Júlio Magalhães, amigo de José Carlos Castro há 23 anos, partilha com o pivô do novo canal de cabo CMTV não só o percurso profissional, desde a extinta Rádio Nova, passando pela RTP Porto e pela TVI, mas também uma amizade à prova de bala que nem a distância entre Lisboa e Porto consegue afetar. "Ele é muito seletivo nos amigos e é muito prático. Não perde tempo com intrigas e é por isso que, às vezes, as pessoas o acham antipático", conta Juca, elogiando o profissionalismo de Zé Carlos. "Ele não trabalha para o sucesso dele. Trabalha para todos terem sucesso. Na TVI já era assim. Não era egoísta. A ambição dele era que todos tivessem sucesso."
Mas recuemos até ao final da década de 80. Animador na rádio Comercial/Norte, e cumprido o serviço militar "na Força Aérea", como conta Mário Augusto, jornalista e conterrâneo, José Carlos Castro está longe de imaginar que, um dia, irá ser um dos pivôs de referência do país. Ao fim de semana, "põe uns discos" no Dacasca, bar situado em Cortegaça (Ovar) e um dos mais bem frequentados à época, onde trava amizade com o dono da casa, Amadeu Amaro. Mas é pela mão de Francisco José Oliveira que o jovem, de 26 anos, nascido em Espinho envereda pelo mundo das notícias. "Um dia, ouvi o José Carlos Castro, gostei francamente do desempenho dele e na mesma altura contactei-o", começa por contar o fundador da Rádio Nova e atual vice-presidente da Associação Portuguesa de Radiodifusão (APR). "Quando lhe apresentei o projeto, disse que havia animação e jornalismo. Ele ficou a olhar para mim, surpreendido, e não teve resposta. Eu disse-lhe 'não tem escolha. Quer assinar o contrato ou não?' Ele perguntou 'não vou ter outra oportunidade, pois não?. Disse-lhe que não, e ele assinou. Conversámos durante um quarto de hora. Foi rápido, acho que foi amor à primeira vista (risos)!", brinca Francisco José Oliveira.
O homem responsável por levar José Carlos Castro para o jornalismo diz estar "orgulhoso" por esse facto, mas adverte: "Fui 50% culpado porque o resto da culpa foi dele. Eu dei-lhe a cana e ele aprendeu a pescar", conta o vice-presidente da APR, que já na Rádio Nova recomenda ao então diretor da RTP Porto, Elísio de Oliveira, José Carlos Castro."Disse-lhe: 'Este gajo não vai morrer aqui, tens de arranjar forma de o encaixar na RTP. Ele tinha uma boa imagem, era simpático e tinha outra grande vantagem, não cometia erros na dicção, ao contrário de outros, que eram uma desgraça."
Benfiquista ferrenho, paixão clubística que o leva a trocas quase diárias de mensagens com o amigo e portista Júlio Magalhães, José Carlos Castro tinha, desde os tempos em que partilhou carteira com Luís Costa, subdiretor de informação da RTP Porto, no liceu de Espinho, a fama de galã. "Era um tipo charmoso, com bom aspeto, o que sempre o ajudou na vida e junto das professoras (risos). Era o que nós achávamos todos... com alguma inveja! Era um rapaz bem-visto pela comunidade feminina", conta o conterrâneo do pivô.
É nesta altura que o jornalista ganha a alcunha de Zé Carioca, em alusão ao famoso papagaio criado por Walt Disney: "A personalidade e a maneira de ser dele remetiam um bocadinho para esse universo de boa onda, de alto astral. O José Carlos é o Zé Carioca, é indiscutível", explica Luís Costa.
"Ele é daqueles amigos como já não há. Sempre bem-disposto, curtido, bon vivant. Estar com ele é emocionante!" Amadeu Amaro, dono do bar Dacasca, onde José Carlos Castro chegou a pôr música, não poupa nos elogios quando fala do "amigo de há 35 anos". E recorda como nos tempos de solteiro o jornalista era "o D. Juan das mulheres". "Elas atiravam-se todas a ele. Primeiro, porque ele tinha muita pinta. Depois, porque estava sempre bem-disposto. O Zé sabia que só precisava de estar sossegado e esperar que elas viessem ter com ele. Ele tinha um íman qualquer que elas iam lá todas parar", conta Amadeu. Até conhecer a atual mulher, José Carlos Castro "nunca foi muito dado a namoradas fixas", como explica Amadeu. "Namorou com a Ana Leal [jornalista da TVI], foi um daqueles flirts dele. Quem teve uma paixoneta por ele foi a Bárbara Guimarães. Como ela é daqui, de perto, de São João da Madeira, saíamos muita vezes juntos. Ela adorava-o!", revela o empresário.
Um dos momentos mais difíceis da vida de José Carlos Castro foi a morte do pai, há 12 anos. Filho único, o jornalista sentiu a perda do progenitor. "Foi complicado, ele era muito ligado ao pai. Ele é muito otimista, não é uma pessoa de se queixar... mas foi uma coisa que lhe custou, porque eles eram muito apegados", revela Swaila, a mulher do jornalista.
"O Zé viu-me na televisão e foi ele que andou a mexer os cordelinhos para me conhecer"
"Vivemos em pecado há 18 anos!", conta, entre gargalhadas, Swaila. A booker da agência Central Models, de 36 anos, prendeu a atenção de José Carlos Castro através da caixinha mágica. "Foi ele que me viu na televisão, em vez de ser eu a vê-lo (risos)", começa por explicar. "Eu participei num concurso The Look of the Year, organizado pela agência Elite. O Zé viu-me, soube que eu era guineense e, como conhecia umas amigas minhas também guineenses, puxou os cordelinhos para me conhecer." Mas para a então manequim "não foi amor à primeira vista". "Começámos a sair e ele, como é persistente, conquistou-me com o bom humor dele." Swaila e José Carlos Castro têm duas filhas, Carolina, de 11 anos, e Madalena, de dois anos e meio. "Ele é um pai muito brincalhão, está sempre na palhaçada. Para elas é uma delícia!"
Swaila e Júlio Magalhães são unânimes quanto ao traço de personalidade mais torcido de José Carlos Castro: a teimosia. "É horrível! É o pior defeito dele. Pensa que consegue fazer tudo e que faz tudo melhor do que toda a gente e tem de ser ele próprio a fazer tudo. É o que mais dores de cabeça me dá (risos)", conta Swaila, que, no entanto, ressalva que "a nível profissional a persistência acaba por ser positiva". O diretor do Porto Canal conta um episódio em que o amigo levou a perseverança até ao caricato. "Lembro-me de que ele comprou uma cozinha no Ikea. Ele é que montou tudo porque achava que os tipos que faziam aquilo não percebiam nada. Andou meses e meses a montar tudo sozinho, depois a parede é que estava torta, não era ele que fazia mal... (risos)." Quando está em família, José Carlos Castro dá largas a um dos seus maiores prazeres, a culinária. "Ele cozinha muito bem e adora! Faz maravilhosamente bem assados e, como gosta, enfeita os pratos. É muito dedicado, mas, depois, deixa tudo desarrumado e porco para eu limpar", relata a booker. No processo de conquista, o jornalista não deixou de seduzir Swaila com os seus dons culinários... ainda que, para isso, tenha recorrido a alguma batota. "Da primeira vez que fui jantar a casa dele não me recordo de qual era o prato principal, mas lembro-me de que ele serviu uns pãezinhos de queijo e disse que foi ele que os fez. Eu fiquei convencida de que tinha sido ele mesmo, mas eram daqueles congelados (risos)", revela Swaila, entre gargalhadas.