"Jornalar" é rotina prazerosa

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Há aquelas rotinas que quase esquecemos, de tão automáticas. As básicas, como os cuidados de higiene, que fazemos quando acordamos e antes de nos deitarmos, e aquelas que foram surgindo ao longo do tempo e que são adaptadas às circunstâncias. O café onde tomamos o pequeno-almoço, o transporte que apanhamos para ir trabalhar, o tempo que dedicamos à TV ou às redes sociais depois de jantar... Estas rotinas, quase obrigatórias, acrescentam pouco ou nada às nossas vidas. São chatas, repetitivas e raramente saem da atividade normal.

Mas há outras que somos nós que as criamos e que nos dão grande prazer. Uma dessas minhas rotinas é comprar jornais às sextas e sábados e ir para dentro de um café no inverno e para uma esplanada no verão para os ler. É aquilo a que eu chamo "jornalar". Bem sei que em 2019 boa parte das notícias encontramo-las nos nossos telemóveis através de aplicações ou redes sociais, mas o prazer de folhear e cheirar o papel de um jornal é algo impagável.

Nunca consegui ler livros através de telemóveis ou tablets. Não é confortável nem dá prazer algum.

E a verdade é que os livros em papel não entraram em crise por causa dos livros digitais. Alguém consegue ler o Ulisses, de James Joyce, ou o Memorial do Convento, de José Saramago, num ecrã? Eu não.

O mesmo se passa com grandes reportagens ou notícias mais longas e mais explicativas. Nada substitui o prazer de ler uma grande reportagem em papel, com subtítulos, grandes fotografias, legendas, quadros, mapas...

Talvez esteja aí a chave de um relativo maior sucesso das revistas em relação aos jornais. Já ninguém procura notícias rápidas no papel - essas leem-se na net -, mas boas histórias, boa opinião e boas fotografias vivem nas revistas.

O papel tem de ser um produto gourmet, para quem, como eu, fez do ato de "jornalar" uma das suas rotinas mais prazerosas.

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