Jorge Pina quer "trincar" medalha e ganhar força para ir ao Vaticano a pé

Antigo campeão nacional de boxe ficou cego em 2004 e apostou na corrida. Nos Jogos do Rio vai correr a maratona dia 18
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Nascido em Portimão em 1976, desde cedo Jorge Pina tornou-se uma referência do pugilismo nacional, conquistando diversos títulos, nomeadamente o de campeão nacional ao serviço do Sporting. Em 2004 ficou cego e teve de abandonar o boxe." Limpei as lágrimas, curei as feridas do meu amor pelo boxe e parti para a corrida", disse à Notícias Magazine , durante uma reportagem em 2014, justificando a aposta no atletismo.

Agora prepara-se para correr nos Jogos Paralímpicos do Rio 2016, que começaram esta madrugada (António Costa tinha previsto estar na cerimónia de abertura que decorreu de madrugada - ver mais na página 12) e terminam a 18 de setembro, com o Brasil a acolher mais de quatro mil atletas de 176 países.

O maratonista português é um dos atletas mais mediáticos da comitiva nacional, a maior de sempre com 37 atletas, a par de Lenine Cunha, medalha de bronze no salto em comprimento em Londres e um dos atletas mais medalhados de sempre a nível mundial.

Na terceira participação, depois de Pequim 2008 e Londres 2012, Pina espera que seja desta que sobe ao pódio "para agarrar uma medalha e trincá-la". Vai correr na classe T12, dia 18 de setembro às 17.00 horas de Lisboa, e alia o sonho de uma medalha ao desejo de correr de Fátima até ao Vaticano. "Eu acho que o Papa Francisco está a fazer um bom trabalho, gostava de o conhecer, abraçar", confidenciou o atleta paralímpico, em entrevista à Agência Ecclesia, destacando a importância de haver "mais ética e humanidade" no desporto. A ideia é sair de Fátima e passar por Compostela (Espanha) e Lourdes (França) até chegar a Roma.

Ficou cego em 2004

Pina ia disputar o mundial de boxe, em 2004, quando ficou cego. Teve problemas na visão e foi operado, mas a intervenção correu mal e sofreu um descolamento da retina: "Das várias cirurgias que fizeram para tentar emendar acabei por perder a vista esquerda e fiquei com 10% de visão no olho direito."

Do ringue para a pista de corridas, a luta continuou e sempre com a uma vontade de superar barreiras. "A minha corrida é uma corrida muito interior, sou uma pessoa que gosto de desafiar-me, e o meu maior adversário sou eu mesmo. Tenho muita fé, aprendi a conhecer-me e a querer entender o mundo e o universo e fui aprendendo com a vida, ela ensinou-me a não precisar de ver para acreditar", disse o ex-boxeur, que um dia confessou: "Se pudesse ver de novo, gostava de ver a minha mulher."

Depois de limpar as lágrimas e começar a "correr a sério", em 2014, por exemplo, propôs-se correr o país em dez dias - 700 quilómetros de Viana e Sagres - , como forma de divulgação do projeto Jorge Pina Corre por Mais Portugal, de ajuda a dez associações humanitárias.

Além da associação com o seu nome e de projetos como o Music Boxe, que combina boxe, dança e música, Jorge Pina criou também a primeira Escola de Desporto Adaptado em Portugal, para pessoas com deficiência. "Não criei a escola para criar campeões do mundo no desporto, e os meus projetos não são para criar campeões no desporto, mas que eles possam ser campeões do mundo na vida. O maior combate e a maior corrida é a corrida da vida, e às vezes nós esquecemo-nos dela e queremos só correr nas outras corridas e essa é a mais importante", sublinhou.

Bolsas dos 225 aos 1375 euros

Portugal beneficiou do afastamento da Rússia, devido a problemas de doping, para aumentar de 29 para 37 o número de atletas no Rio 2016, divididos por sete modalidades - boccia, judo, tiro, natação, atletismo, equitação e ciclismo. E desses 37, onze prepararam-se com bolsas na ordem dos 1375 euros, sendo que os restantes variaram entre 225 euros a 530, num total de 3,3 milhões - mais um milhão de euros relativamente a Londres2012. As diferenças de valores entre atletas denunciam um "desconhecimento sobre o que é o desporto adaptado", segundo o chefe da missão portuguesa aos Jogos Paralímpicos Rio 2016. Por isso, Rui Oliveira defendeu que "a profissionalização é o caminho para a obtenção de resultados de excelência" numa competição cada vez mais forte e exigente. E quer, no mínimo, igualar as três medalhas conseguidas em Londres 2012.

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