Jonathan Bender, a história de um herói
Aos 18 anos, Bender tinha o mundo a seus pés. Acabado de completar a high school [escola secundária] com médias impressionantes de 23,1 pontos e 15 ressaltos e de bater um recorde de Michael Jordan no All-American Game (espécie de jogo das estrelas das escolas dos EUA), Jonathan saltou directamente para a NBA sem passar pela universidade, sendo escolhido no quinto lugar do draft desse ano pelos Toronto Raptors (e trocado depois com os Indiana Pacers). Com 2,13 metros e um porte atlético notável, Bender suscitava o entusiasmo da liga, que o via como uma réplica melhorada de Kevin Garnett. "Ele fazia coisas de fazer parar o treino, ficávamos todos de boca aberta", lembrou por estes dias Larry Bird, na altura treinador dos Indiana Pacers e hoje presidente da equipa. Em 2001, fascinou no concurso de afundanços do AllStar com uma réplica de um afundanço do mítico Julius Erving. O futuro parecia brilhante para Bender, que na época 2001-2002 assinou uma extensão de contrato de quatro anos por 28,5 milhões de dólares.
Mas isso seria o começo do pesadelo que se seguiu. As lesões tomaram conta dos joelhos do atlético Bender, que fez apenas sete jogos em 2004 e outros dois em 2005, antes de ser obrigado a retirar-se no início de 2006, já quase sem cartilagem nos joelhos e com dores insuportáveis num simples subir de escadas.
Por essa altura, Nova Orleães tinha acabado de ser devastada pelo terrível furacão Katrina, que causou mais de mil mortos e deixou mais de um milhão de pessoas desalojadas nas margens do Mississippi. Bender, natural de Picayune, no Mississippi, foi um dos sobreviventes do Katrina. E tornou-se um dos seus heróis: dedicou-se à recolha de alimentos, ajudou na reconstrução de casas na área devastada, apadrinhou uma escola que tinha ficado submersa pelas águas e montou a Fundação Jonathan Bender, sem fins lucrativos. Bender passou a ajudar nos pequenos sonhos dos outros. "Uma espécie de empreendedor social", auto-define-se.
Mas o sonho da NBA nunca se apagou de vez. Bender passou os últimos anos num programa específico de recuperação física e há duas semanas, quatro anos após a retirada, voltou aos pavilhões, com a camisola dos New York Knicks. Já não a tempo de ser o próximo Kevin Garnett, provavelmente, mas na altura ideal para nos mostrar que ainda há verdadeiros heróis nos tempos modernos.