Jogar para Perder, no Porto

Publicado a
Atualizado a

Com mãe do Porto e pai de Lisboa, costumo dizer que sou metade de cada cidade.

A impressão que tenho, dos temas que acompanho mais de perto - economia e imobiliário - e das visitas à cidade, é que o Porto tem sido muito bem gerido. E os portuenses pensam o mesmo, pois reelegeram o seu Presidente e equipa para o terceiro mandato.

A recente parceria entre o Porto, Gaia e Matosinhos, para a promoção e captação de investimento internacional, mostra que os protagonistas souberam pôr o interesse da região em primeiro lugar, vencendo bairrismos bacocos e guerrinhas partidárias. Infelizmente, Lisboa, precursora nesta matéria, deixou de conseguir agregar outros Concelhos às suas ações.

Também o Metro do Porto é um excelente projeto de mobilidade urbana, sem paralelo em Portugal pela sua qualidade e dimensão (67 km de rede em sete Concelhos). Sendo uma das maiores redes de metropolitano ligeiro da Europa.

Assim, foi com tristeza que soube o que aconteceu no concurso para a nova ponte sobre o Douro: uma equipa, com alguns dos melhores projetistas nacionais, considerou que o ponto de amarração definido do lado do Porto apresentava vários problemas e desenvolveu um projeto para uma localização que, embora próxima, não cumpria o definido no caderno de encargos, tomando assim a decisão, unânime, de "jogar para perder".

Aos projetistas, com uma carreira internacional de excelência, habituados a ganhar e a perder concursos, mais do que ganhar, interessa ter a consciência de terem feito projetos de que se podem orgulhar.

Partindo dos jardins da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP), o projeto propôs uma "ponte-jardim" em que o tabuleiro superior seria para passeio pedonal, ciclovia e jardim, e o tabuleiro inferior exclusivamente para o metro. Com as vantagens adicionais de reduzir 100 metros ao vão da ponte e ter muito menos impacto nas construções existentes na encosta.

Apesar da contestação (12 equipas foram eliminadas, a FAUP não foi consultada e a Casa Augustina Bessa-Luís e outros proprietários da encosta sentem-se prejudicados com a solução escolhida) o Metro do Porto diz ter cumprido as regras, que definiu, e quer avançar com a obra, estimada em 50 milhões de euros, para não correr o risco de perder o financiamento...

Daqui a uns anos o Douro terá uma nova ponte... Mas não terá uma ponte inovadora, não terá uma "ponte-jardim", não terá uma ponte que orgulhe uma cidade património mundial que ambiciona e merece ser a grande capital do Norte da Península Ibérica. Terá apenas, como cantavam os Jáfumega, mais "uma passagem, para a outra margem"... Quem se preocupa com os custos, e muito bem, deveria estar em pânico com este custo de oportunidade.

Uma das lições do livro "Economia de Missão", de Mariana Mazzucato, é que as entidades que lançam os grandes projectos (missões) devem ser fortes e ambiciosas, envolver a sociedade, colaborar com empresas especializadas e promover a inovação, não dizendo como fazer...

Se consultam os melhores especialistas, porque os proíbem de encontrar as melhores soluções?

Rui Ramos-Pinto Coelho (Gestor)

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt