Joaquim Magalhães Castro - Um olhar sobre as 7 Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo
Qual o objectivo da sua viagem pelos monumentos candidatos à eleição das 7 Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo?
As minhas visitas aos locais têm objectivos claros: recolher imagens e depoimentos, ver o estado do património, escrever não só sobre o monumento em si mas também sobre a sua envolvência e conseguir o máximo de documentação possível. A ideia é aliar o viajante ao investigador.
Já tinha estado em alguns dos locais que agora visita com o objectivo de dar a conhecer ao grande público o património que os portugueses construíram pelo mundo...
Já. Sou jornalista freelancer mas a minha formação é em História, e a maior parte dos trabalhos jornalísticos que tenho feito tem que ver com temas dessa natureza, designadamente com a expansão portuguesa. Acresce que gosto muito de viajar.
O propósito é auscultar o estado do património e reportar o sentimento das pessoas em relação a essas 7 Maravilhas de Origem Portuguesa?
Exacto. Até agora, está cumprida a etapa da América do Sul. No Brasil há sete bens nomeados e no Uruguai apenas um, o centro histórico da Colónia de Sacramento. Foi cerca de um mês de viagem. Por vezes o tempo foi escasso. Agora falta-me as etapas de África e Ásia.
Do que já visitou, qual é o sentimento global?
No que respeita à conservação dos bens, a maioria dos que já visitei pode considerar-se em bom estado. Mas por vezes ouvi queixas. No Convento de São Francisco, no Recife, um monge queixou-se do estado de degradação dos azulejos, por exemplo. Creio que uma organização desta natureza também serve para chamar a atenção para estas situações.
Teve alguma dificuldade de movimentos?
Em alguns locais sim, designadamente no que toca à autorização para fotografar no interior de edifícios religiosos. Em Ouro Preto, no estado brasileiro de Minas Gerais, tive o apoio do Turismo local, que me disponibilizou um carro e um guia, mas mesmo assim nem sempre foi fácil.
E surpresas, foram boas ou más?
Boas. A começar pela beleza dos monumentos. Por vezes, o contexto geral dos sítios até chama mais a atenção do que as coisas nomeadas para concurso, mas o concurso tem pressupostos. No Brasil, em quase todo o lado sente-se Portugal, aquilo é Portugal. Saindo de Ouro Preto a caminho de Mariana, a primeira capital de Minas Gerais, há um ponto alto, e olhar dali para Ouro Preto é como se estivéssemos a ver a alta de Coimbra, com a universidade.
Deste projecto também faz parte um blogue e mais tarde um livro...
O blogue já devia estar funcional, mas por razões técnicas ainda não está no ar. Nele surgirão imagens, textos e alguns vídeos. Será um diário de viagem, com informação histórica. Quanto ao livro, era bom que pudesse estar pronto em Junho, mas não sei se será possível. Terá a colaboração do professor Pedro Dias, que fará um enquadramento artístico, enquadrando o meu olhar no local.
A jornada sul-americana já foi suficiente para trazer alguma convicção relativamente ao legado português no mundo?
No sentido da sua importância, nem precisava de lá ter ido. Mas aumentou a convicção de que é um legado muito importante. No Brasil, então, é por de mais evidente, há uma permanente ligação a Portugal.
As pessoas tendem a olhar para esses bens construídos com carinho ou com a reserva de que aquelas são pegadas do colonizador?
Como pegadas do colonizador, não. Conhecem os dados históricos e as suas personagens e tratam esses bens com muito cuidado, falam das coisas com afecto. Mas é um facto que no Brasil ainda há preconceito em relação a Portugal.
Que tipo de preconceito?
As piadas do Joaquim e do Manuel, essas coisas. Eu chamo-me Joaquim e fartei-me de levar com piadas dessas, que traduzem de certa forma o desconhecimento que os brasileiros ainda têm sobre nós, apesar dos 500 anos que já passaram. Também é curioso perceber que há gente que ignora que os seus nomes de família, Meneses ou Teixeira, por exemplo, são portugueses.
Aconteceu alguma situação curiosa que tenha testemunhado?
No Uruguai, onde eu nunca tinha estado, uma arqueóloga disse-me uma coisa que também senti mal lá cheguei. Quando esteve em Lisboa teve a sensação de que os uruguaios tinham vindo todos para Portugal. E eu lá senti exactamente o mesmo. Parecia-me estar a ver portugueses por todo o lado. Somos muitos parecidos, fisicamente e no comportamento, os uruguaios são bastante reservados. Aliás, se formos a uma lista telefónica do Uruguai, metade dos apelidos são portugueses. Há Sequeiras, Teixeiras, Silvas, Castros, Marques.
Para esta eleição foram escolhidos 27 monumentos. Faz parte dos pressupostos das Maravilhas de Origem Portuguesa uma selecção prévia...
Pois faz, mas podia haver uma lista de 270 monumentos.
Que marcas poderiam estar nesta lista de 27 exemplos em vez de alguns dos que foram escolhidos?
«Em vez», não. Esta lista é boa, mas incluiria outro património que não consta dela. Talvez tirasse uma ou outra igreja para equilibrar e poria, por exemplo, no caso do Brasil, o centro histórico de Goiás, de Diamantina ou de São Luís do Maranhão. Em qualquer destas cidades há igrejas belíssimas que poderiam estar na lista e não estão. Mas isto não significa que os bens que constam dela não estejam lá por mérito próprio.
Os países onde há este legado português estão verdadeiramente interessados nesta eleição e na vitória de um dos seus bens?
Acho que sim. O caso do Uruguai é paradigmático. A Colónia do Sacramento é a «jóia da coroa» do turismo cultural naquele país. O Uruguai não tem mais nada de relevante. Senti a mesma coisa no Brasil, mas lá há muito por onde escolher. E porque assim é, já se instalou algum bairrismo: «Porquê eles e não nós?» Um dos objectivos deste projecto das Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo também é chamar a atenção para a necessidade de preservação daquele património...
... Que sendo de origem portuguesa não é propriedade de Portugal.
Também temos a responsabilidade de o assumirmos como «nosso». É um traço português que ficou ali. Acho que devemos valorizar estas coisas que tiveram origem em nós. Algum dele está classificado pela UNESCO como Património da Humanidade, o que, no entanto, não é nenhuma garantia. O Forte de Quíloa, na Tanzânia, está classificado e a cair aos bocados. As pessoas tiram pedras para construir casas...
Ter estado nos sítios, ver para crer, é uma mais-valia?
Claro. É fundamental estar nos locais e ver os monumentos. Ouvir falar de uma coisa interessa-me pouco. Um documentário não me chega. Estar no local, ver, sentir e tocar é absolutamente fundamental. Nada substitui o nosso olhar.
Acabado o périplo pelas 27 Maravilhas de Origem Portuguesa, deverá ser dos poucos – portugueses ou estrangeiros – que não se limitaram a vê-las de um modo, digamos, manco, e que ficou com verdadeiro conhecimento delas.
Há muitas pessoas que se interessam por estas coisas e que terão estado nesses lugares todos, julgo eu.
Maravilhas lá fora e cá dentro
A New 7 Wonders Foundation surgiu pela mão do produtor suíço Bernard Weber e foi responsável pela eleição das Novas 7 Maravilhas do Mundo. A Grande Muralha da China; a cidade de Petra, na Jordânia; a cidade inca de Machu Picchu, no Peru; a pirâmide maia de Chichén Itzá, no México; o Taj Mahal, na Índia; o Coliseu de Roma, em Itália; e a estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, no Brasil, foram os eleitos graças aos votos de cerca de cem milhões de pessoas.
No nosso país foi criada a New 7 Wonders Portugal para apoiar esse projecto, organizando a declaração oficial numa cerimónia que decorreu a 7 de Junho de 2007, no Estádio da Luz, em Lisboa, e organizou ao mesmo tempo a eleição das 7 Maravilhas Portuguesas, para a qual contribuíram cerca de 350 mil votantes. Foram eleitos o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém, em Lisboa, os castelos de Óbidos e de Guimarães, os mosteiros da Batalha e de Alcobaça e o Palácio da Pena, em Sintra.
Este ano é a vez da escolha de 7 Maravilhas do Património de Origem Portuguesa no Mundo, que serão conhecidas no próximo 10 de Junho, Dia de Portugal.
O critério adoptado para a lista de 27 bens em 16 países agora a concurso foi o seu valor histórico e patrimonial. A lista, desenvolvida com base nos contributos de Pedro Dias, catedrático de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e do arquitecto João Campos e validada pela Universidade de Coimbra, abrange 16 países [ver caixa «E os 27 nomeados são...»]. Alguns já têm a chancela da UNESCO como Património da Humanidade, outros poderão vir a tê-la.
A votação começou a 13 de Dezembro de 2008 e termina a 31 de Maio de 2009. Pode ser feita através do site www.7maravilhas.sapo.pt, onde também se encontram indicações sobre como votar por telefone ou SMS (só em Portugal).
E os 27 nomeados são...
ÁFRICA
Angola - Luanda, Convento do Carmo
Cabo Verde - Cidade Velha de Santiago
Etiópia - Gorgora Nova
Gana – São Jorge da Mina
Marrocos – Cidade Fortificada de Mazagão
Marrocos – Fortaleza de Safi
Moçambique – Ilha de Moçambique
Quénia – Mombaça, Fortaleza de Jesus
Tanzânia – Forte de Quíloa
AMÉRICA
Brasil – Congonhas, Santuário do Bom Jesus de Matosinhos
– Olinda, Mosteiro de São Bento
– Ouro Preto, Igreja de São Francisco de Assis da Penitência
– Recife, Convento de São Francisco e Ordem Terceira
– Rio de Janeiro, Mosteiro de São Bento
– Rondónia, Fortaleza de Príncipe da Beira
– São Salvador da Baía, Mosteiro e Ordem Terceira de São Francisco
Uruguai – Centro Histórico e Colónia do Sacramento
ÁSIA
Bahrein – Fortaleza de Qal’at al-Bahrein
China – Macau, Ruínas de São Paulo
Índia - Cidade de Baçaim
– Cidade de Damão Grande
– Fortaleza de Diu
– Goa, Basílica do Bom Jesus
– Goa, Sé
Irão - Fortaleza de Ormuz
Malásia - Centro Histórico de Malaca
Omã - Fortificação de Mascate