Foi eleito pelo público, através da revista TV7 Dias, o melhor jornalista/apresentador de 2011 na gala III Troféus de Televisão. Como recebeu esta distinção?.Foi uma honra. Foi o reconhecimento do público pelo meu trabalho que dura há muitos anos na RTP. Estou há 12 anos como apresentador e há 10 no Bom Dia Portugal. É natural que se crie empatia por parte do público pelo nosso trabalho..O que acha que levou o público a elegê-lo?.Julgo que se deve à proximidade que o programa da manhã permite manter com os telespetadores. Tenho muito feedback das pessoas, dizem-me o que pensam do meu trabalho..Venceu o troféu e deixou para trás colegas e profissionais de referência do jornalismo nacional, como foi o caso de José Alberto Carvalho, diretor de informação da TVI, José Rodrigues dos Santos, pivô do Telejornal, Pedro Mourinho e Rodrigo Guedes de Carvalho, ambos na SIC....Não sinto absolutamente nada quanto a isso. As pessoas nomeadas são, nornalmente, sempre as mesmas e, como tal, são sempre essas a ser premiadas. Este prémio só veio mostrar que, quando se nomeiam novos nomes, também esses podem alcançar uma vitória..Sente-se o melhor jornalista/apresentador português de 2011?.Não sinto nem deixo de sentir. Faço o meu trabalho todos os dias e tento fazê-lo o melhor que sei. Entrego-me ao trabalho, não me limito a estar. Sinto que o público me escolheu a mim, mas poderia escolher qualquer outro dos nomeados..Apresenta, há dez anos, na RTP1, o Bom Dia Portugal. O que o move, ao fim de tanto tempo, enquanto pivô deste bloco informativo das manhãs?.O desafio de todos os dias ter desafios novos. Temos, todos os dias, questões que temos de ultrapassar. É o tentar ser melhor, chegar mais longe..Nas tarefas do seu dia-a-dia, o que gosta mais de executar?.Gosto muito de escrever, habituei-me quando estive na rádio a escrever os pivôs e acho que para se ser um bom apresentador de televisão é preciso escrever o que se diz. Todos nós temos o nosso tom, a nossa forma de falar e a naturalidade é um dos maiores segredos nesta área..Porque razão defende essa caraterística?.As pessoas percebem quando estamos a ser falsos. E a escrita permite isso... Se lermos algo escrito por outra pessoa, já não conseguimos atingir a mesma naturalidade no trabalho e, por isso, gosto muito de escrever. A naturalidade à frente da câmara é, de facto, muito importante para se chegar a algum lado..É por esse motivo que assume o sorriso quando está a apresentar o Bom Dia Portugal? É um trunfo seu?.Não, não... Eu sou mesmo assim e, por isso, não faz sentido escondê-lo. O sorriso pode até ser um trunfo, mas quando não é usado de forma fingida. Acho que as pessoas percebem sempre se estamos ou não a enganá-las. E, a meu ver, só há um caminho: a verdade em termos factuais e em termos de postura. Temos de ser nós próprios..O formato cresceu como esperava?.Sim, cresceu mas teve muitas fases. O que é mais curioso é que desde o primeiro dia do Bom Dia Portugal, conseguimos ter a aceitação do público. E daí a liderança nas audiências. Sinto que cresceu dentro das minhas expetativas. Tornou-se um produto forte..Gostaria que o formato fosse alvo de mudanças?.Acho que deveria haver uma maior aposta em reportagens em direto. É raro o dia em que não as temos, mas acho que, ainda assim, o programa teria a ganhar se tivesse ainda mais. As reportagens em direto dão uma maior vivacidade ao programa, as pessoas gostam..Há menos peças desse género por culpa de uma contenção de custos?.Não. Repito: temos todos os dias essas reportagens, mas acho que deveríamos ter mais. Não passa pela crise, passa por oportunidades de acontecimentos, pela existência ou não de meios num determinado momento..O que há ainda por olear na máquina do Bom Dia Portugal?.Oleamos a máquina todos os dias, porque acontecem sempre imprevistos controlados. Está tudo bem oleado. Todos sabemos o que cada um faz e as respectivas responsabilidades..Tem, apesar dos seus 16 anos de carreira em televisão, algum "fantasma" que ainda o atormente quando está em direto?.Não tenho (risos). Aquela coisa de cair o teleponto... não me preocupa. Como escrevo os textos, se aquilo cair a meio... eu tenho boa memória e lembro-me dos textos. E esse é um dos dramas de quem está a começar. Também pensava isso quando estava a começar..É um bom gestor do seu tempo durante a emissão? Ou esta é uma "arte traiçoeira" para quem trabalha em televisão?.Faço um esforço para ser, porque sei que se tenho quatro minutos é só aquele tempo. O que não quer dizer, porém, que se estiver diante de um político e se tiver que fazer uma pergunta importante, não a faça. Se for uma entrevista normal, cumpre os minutos que me foram dados.."Não escondo que gostava de voltar a apresentar o Telejornal".É capaz de identificar a sua maior virtude enquanto jornalista?.Sim. Ser honesto, enquanto jornalista e pessoa. Acho que uma carreira constrói-se com muito trabalho e também com muita honestidade, com características naturais nossas... Defendo que devemos pô-las ao nosso serviço, porque se não acabamos por pertencer a uma enorme "massa cinzenta" e a um grupo de pessoas que querem ser todas iguais,e que tentam todas ler pivôs da mesma maneira e estar com a mesma postura perante o ecrã..E o seu maior defeito?.Enquanto profissional? Deixe cá ver... (risos) Talvez seja desiludir-me com algumas pessoas..Desilude-se por falta de rigor? Profissionalismo? A que se refere?.Ainda me desiludo com algumas pessoas. Acredito nelas e nem sempre correspondem às expetativas. Desiludo-me pelo que as pessoas são enquanto profissionais e pessoas. Talvez isso seja o meu maior defeito....É um dos rostos do programa de informação. Pergunto: Não tem vontade de voar mais alto? De arriscar noutros campos....Sim, tenho. Há, naturalmente, sempre vontade de voar mais alto, mas isso é uma questão que diz respeito à direção de informação. Sinto-o há bastante tempo... faz parte evoluirmos profissionalmente. E eu tenho...Aliás, eu tive boas oportunidades na RTP quando, por exemplo, o José Alberto Carvalho [antigo diretor de informação da RTP] e a Judite Sousa [antiga diretora adjunta de informação da RTP] me convidaram para apresentar o Telejornal. E correu muito bem, tive, na altura, um feedback fantástico. Depois, não continuei porque houve uma remodelação nesse campo....Gostava de voltar a apresentar o Telejornal?.Sim, se houvesse essa oportunidade. Porque já fiz e correu bem. Não se trata de um sonho, foi algo que foi realidade e que correu bem. Sim, gostava. Não o escondo..O que mais o fascina na edição e produção desse espaço informativo?.A adrenalina. Fascina-me sentir que muita coisa ali passa por nós. Mesmo tendo uma equipa boa por trás, sabemos que aquilo está dependente apenas e só de nós. Se perante um imprevisto ou uma situação complicada, não formos nós a resolver... Se morrer alguém, por exemplo, temos de ser capazes de estar ali em frente ao ecrã durante uma ou duas horas a improvisar e a "distribuir jogo" pelos vários repórteres. Saber improvisar é muito importante....Já fez reportagens, diretos, operações especiais, acompanhamento de visitas ao estrangeiro do Presidente da República. Tem saudades de trabalhar na rua?.Sim, gosto de fazer grande e média reportagem. Fiz centenas de diretos, reportagens... Eu gosto de apresentar, mas quando surge uma oportunidade estou disponível. Sou jornalista, não sou apresentador. Faço tudo o que me peçam: apresentar, preparar peças... é importante fazer tudo. E até nessas pequenas coisas devemos colocar o que há de melhor em nós..Viajemos no tempo. Quando é que descobre e decide que quer ser jornalista?.Tudo aconteceu quando tinha, talvez, os meus 16 anos. Foi, na altura, em que começaram a surgir as rádios-pirata. Eu sonhava em fazer rádio....Ficava-se pelo sonhos ou brincava às rádios no quarto?.Sim, é verdade... eu ensaiava e brincava no meu quarto (risos)! Naquele tempo, não pensava em televisão. A minha ligação à rádio, que veio a acontecer, resume-se a uma história engraçada e que, por acaso, nunca contei a ninguém... Mas também não sei se terá espaço na revista....Força. Queremos conhecê-la....Tudo aconteceu no Verão. Eu encontrava-me na terra da minha avó, que se situa lá para os lados de Arganil. Houve um dia em que eu e alguns amigos resolvemos estar à beira da estrada a pedir boleia. E lembro-me, até hoje, que demo-nos ao luxo de escolher o carro onde queríamos seguir viagem. E eu disse para os meus amigos: 'Deixem passar esse carro... Vamos no jipe'. Quando entrámos, a pessoa que ia a conduzir era, nada mais e nada menos, do que o dono da Rádio Mais. Eu aproveitei logo para lhe pedir que me arranjasse um estágio. E assim foi... Fiquei lá a estagiar durante seis meses. Depois mudei para uma rádio de Almada e, mais tarde, fui para a rádio Energia, da TSF. A TSF foi uma grande escola para mim. Aliás, a minha grande meta em miúdo era chegar e trabalhar nessa rádio..Ver-se-ia a voltar a trabalhar em rádio?.Se surgisse um convite interessante, seria capaz de voltar, mas sem deixar a televisão..Que memórias guarda da sua infância?.Recordo com bastante saudade a minha avó e bisavó, com quem eu passava muito tempo. Eu era um bocado traquina e elas às vezes viam-se gregas comigo, mas tinham uma paciência infinita..Quem foi o familiar que mais o influenciou na formação da sua personalidade?.A minha mãe, que sempre me deu liberdade para eu ser o quisesse..E a desenvolver o seu perfil profissional?.O Miguel Lemos, já falecido. Foi ele que me convidou para fazer televisão quando eu nunca tinha pensado ou sequer ambicionado tal coisa. Era um jornalista muito experiente com quem aprendi muito, muito mesmo. Depois, a Judite Sousa, pelo desempenho e pelo empenho. É outra pessoa que também sempre apostou em mim para voos mais altos e que eu sei nunca ter deixado ficar mal..Sente-se bem pago ou mal pago na RTP?.Se atendermos ao que ganha um pivô de televisão, acho que sim, que sou mal pago..Iniciou funções na RTP em 1996, na categoria de repórter num programa dedicado ao ambiente, 7 Graus Oeste. Aceitaria mudar de canal?.Estamos todos no mercado! E eu nunca digo desta água não beberei..Qual é a sua opinião sobre o atual medidor de audiências, GFK Portugal?.É pelo menos uma coisa: polémico. Se resulta ou não? Parece que não. É absolutamente estranho o que se tem passado quanto às audiências de todos os canais e da RTP. É mesmo estranho..Com a nova medição, a RTP apresenta um share mais baixo do que tinha, quando as audiências estavam a cargo da Marktest. E o Bom Dia Portugal perdeu também telespetadores. Como vê este retrato?.Sim, todos os programas de informação sofreram com essa alegada quebra que essa empresa nos atribui. Mas não foi isso que nos fez baixar os braços. Estamos a trabalhar da mesma forma..Como vê a alienação de um dos canais da RTP?.É uma questão que está a ser estudada. O que espero é que aquilo que a RTP representa para os portuguesas, a história e a sua memória, sejam preservardas. A RTP tem um papel fundamental enquanto televisão..O serviço público estará em risco?.Espero que não. Espero que os valores sejam preservados. E espero que as pessoas que trabalham há anos e anos sejam também respeitadas. Muitas só cá estão hoje porque vestem a camisola. E que é também o meu caso..Teme com as novas alterações vir a perder o seu emprego?.Não. Eu acredito que quem trabalha, mais cedo ou mais tarde, acaba por ver o seu valor ser reconhecido. Nem sequer acredito que vá acontecer isso... A redação da RTP não é assim tão grande. Todos os dias as pessoas têm trabalho para fazer, há muitos programas informativos..Que conselhos deixa aos milhares de jovens que estão a sair das faculdades e ambicionam trabalhar em televisão?.Não desistam do sonho. Mas vai ser difícil. Aconselho a tentarem começar por sítios pequenos, são esses lugares que nos dão mais oportunidades de nos experimentarmos a nós próprios. São um grande laboratório. Não devem ambicionar logo tudo..Um objetivo maior que quer ainda cumprir....Ser feliz. Quando estou a trabalhar no Bom Dia Portugal, durante aquelas horas, sou muito feliz. Desligo do mundo e, de facto, sou mesmo muito feliz. Espero ter oportunidades de mostrar o meu trabalho.