João Soares enaltece "o grande exemplo" de João Cutileiro
O ministro da Cultura, João Soares, considerou hoje "um grande exemplo para o país" a doação ao Estado pelo escultor João Cutileiro de parte do seu património, que vai permitir criar em Évora a Casa/Ateliê com o seu nome.
"Parece-me um gesto extremamente importante, antes de mais porque vai contra aquilo que tem sido dominante na Europa e na nossa terra, infelizmente, nos últimos anos, que é o egoísmo e o 'salve-se quem puder'", disse o ministro, em Évora.
Com este gesto, João Cutileiro, que é "uma grande figura das artes" em Portugal, segundo João Soares, "dá prova de desapego dos interesses materiais" e "dá um grande exemplo ao país".
O ministro da Cultura falava aos jornalistas depois de presidir à assinatura da Carta de Compromisso que vai orientar a constituição da Casa/Ateliê João Cutileiro, numa parceria entre a Direção Regional de Cultura do Alentejo (DRCAlen) e a Universidade e Câmara de Évora.
Também presente na sessão, o escultor, de 78 anos, admitiu aos jornalistas que decidiu doar ao Estado o seu património e espólio, incluindo parte da sua casa, para "poupar" os filhos de "ficarem com isto".
"Fui amigo do José Almada Negreiros, filho de Almada Negreiros, desde os 13 anos e até ele morrer e o desgraçado nunca se 'levantou' da morte do pai", porque "recebeu o espólio" do artista, argumentou.
Quanto aos seus próprios filhos, João Cutileiro afiançou: "Não quero que eles recebam o espólio porque, senão, nunca mais fazem nada na vida por eles".
O presidente da Câmara de Évora, Carlos Pinto de Sá, lembrou que Cutileiro é "um artista de renome internacional que tem marcado positivamente Évora, o Alentejo e Portugal" e que "esta dádiva" permite dispor de um "espólio importante" para ser mostrado ao público na cidade alentejana.
"E vai ter também uma componente de formação com a universidade", o que faz com que a doação seja "uma oferta absolutamente magnífica para Évora e para o país", sublinhou.
Para Carlos Pinto de Sá, a Casa/Ateliê João Cutileiro, cuja criação vai agora ser trabalhada pelas três entidades, pode ainda "ajudar as novas gerações a entenderem o que é a escultura em pedra" e a importância do próprio escultor.
Trata-se de um artista "que teve a capacidade de romper fronteiras, de criar coisas novas e de, numa altura do fascismo, quando havia um cinzentismo muito grande à volta da cultura", mostrar que "havia outros caminhos a seguir", acrescentou.
A doação de João Cutileiro inclui o seu património pessoal, constituído pela casa onde vive e trabalha e o respetivo recheio, que compreende "um conjunto muito significativo de obras de escultura, desenho e fotografia", assim como "a sua biblioteca, documentação variada e os seus instrumentos de trabalho".
O artista pretende que o espaço seja utilizado "para fins culturais/académicos relacionados com a sua produção artística, nomeadamente para o estudo e formação na área da escultura em pedra, onde se incluem atividades relacionadas com a realização de exposições, residências artísticas, visita e fruição pública".