João Mira Gomes: "Seria prematuro estar já a pôr rótulos no FDP"
Como é que encara os resultados destas eleições alemãs?
A entrada da AfD no Parlamento, sendo o terceiro partido, é um elemento novo. Tal como o regresso dos liberais que se afirmam agora como possíveis parceiros de coligação. Depois há dois derrotados: o SPD, mas também a CDU. Porque ganha perdendo, em votos, em número de deputados e tendo uma posição mais fraca do que a que tinha antes. Temos dois partidos que se mantêm relativamente estáveis, Die Linke e Verdes, mas também uma votação baixa da CSU, partido irmão da CDU na Baviera, que pode pôr em causa a maioria absoluta nas regionais de 2018.
A AfD foi o segundo mais votado na Alemanha de Leste. Consegue de alguma foram ressuscitar as antigas divisões Leste-Oeste?
Seria simples explicar o fenómeno da AfD apenas com base na antiga divisão entre Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental. Há outras razões mais profundas. Porém, continua a haver na Alemanha questões de desigualdade social, de índices de desenvolvimento económico, humano e oportunidades de emprego entre os estados das duas antigas Alemanhas. Mas também na Alemanha Oriental, vemos o exemplo de Dresden, onde continua a haver manifestações regulares de movimentos de extrema-direita, como o Pegida, que advogam teses próximas das da AfD. Não deixa de ser curioso, pois antes da queda do Muro de Berlim, Dresden era das cidades onde havia, todas as segundas-feiras, manifestações pela democracia e liberdades. E agora estas manifestações são usadas para contestar os valores que eram defendidos há 30 anos.
Quanto ao SPD, acha que Schulz se precipitou ao rejeitar nova Grande Coligação ou fez bem de não deixar a AfD à vontade na oposição a dizer que é o único partido que defende a pátria?
É uma escolha de Martin Schulz e da direção do SPD. A partir do momento em que o SPD se assume como principal partido da oposição retira espaço à AfD dentro do Parlamento. É um facto. Agora é preciso ver o que dão as negociações de coligação entre a CDU/CSU, FDP e Verdes. Vamos ver que plataforma vão construir em conjunto uma vez que a Alemanha não tem a tradição de ter governos minoritários.
A coligação Jamaica, pela posição do FDP, pode não ser o governo mais amigo da integração na zo-na euro e de países como Portu-gal, Grécia e outros, que precisaram de resgates financeiros...
A esmagadora maioria do eleitorado alemão votou a favor de uma Europa forte, porque é isso que está nos programas dos partidos. O programa do FDP em relação à Europa, tem sido referido, mas não apresenta muitos detalhes. Parece ainda aberto a adaptações. Uma coligação obriga a trocas e cedências e o FDP, perante a agenda europeia forte da CDU e dos Verdes, terá que entrar na negociação com predisposição para encontrar pontos de compromisso. Seria prematuro estar já a pôr rótulos no FDP.
Mas, no passado, o FDP foi contra o resgate grego e várias vezes fez saber que é contra a consolidação da união bancária europeia, algo que países como Portugal consideram importante.
É um debate que se faz. E o debate sobre o futuro da Europa não é só intra-alemão. A posição do futuro governo sobre a Europa vai passar pelo acordo de coligação e por debates no Bundestag sobre a posição que a Alemanha deve assumir nos trabalhos sobre o futuro da Europa. Estamos convencidos de que a Alemanha continuará a defender uma Europa forte, na área económica e monetária, mas também na da defesa, da segurança interna, da política externa.
Enviada a Berlim