JOÃO MARCELINO: Portugal - Espanha - uma rivalidade e dois estilos
Este é o momento para Queiroz arriscar. Conseguido o objectivo mínimo, é absolutamente fundamental a ousadia do treinador no primeiro jogo do tudo ou nada.
Um Portugal ganhador tem de recuperar o ponta-de-lança de raiz (Liedson ou Almeida), de maneira a que Ronaldo possa jogar onde gosta e onde mais rende: recuado, a partir do flanco esquerdo. Aí, ele está mais em jogo, pode influenciar melhor o ataque da equipa e, sobretudo, ensaiar os raids em que se tornou famoso. Colocar Ronaldo no "seu" lugar é absolutamente fundamental para a equipa poder jogar como gosta, em contra-ataque, e aproveitar a tendência dominante do conjunto de Del Bosque.
Outra condição é Tiago e Meireles estarem bem fisicamente e repetirem o jogo dinâmico realizado na segunda parte contra a Coreia do Norte. A equipa precisa que os seus médios interiores apareçam em zona de finalização.
Este deve ser também o momento de Simão, que entrou bem contra o Brasil. A sua experiência pessoal e o conhecimento do futebol espanhol, assim como da maneira de actuar do jogador que terá pela frente (Capdevilla), pode jogar um papel importante.
Em relação à defesa, e depois das experiências, a única dúvida é saber se o treinador prefere a experiência de Paulo Ferreira ou a maior mobilidade atacante de Miguel, e se na posição de pivot acha que Pepe já está capaz de render Pedro Mendes.
De resto, a equipa está perfeitamente definida e provavelmente saberemos, no decorrer dela, se Queiroz perdoou a Deco. Importante, também, é que Danny possa estar em condições: depois da baixa de Nani, ele é o único argumento veloz que pode ser lançado a partir do banco.
O verdadeiro Campeonato do Mundo joga-se a partir de agora, em "modelo Taça", a eliminar. A prova de regularidade, na qual cabe algum calculismo, acabou. Pode dizer-se, portanto, após dois anos de competição e um percurso altamente sofrido, que a selecção de Portugal continua entre as 16 melhores. Acredito mesmo que estará entre as "dez mais". Ganhar é outra coisa e não se deve exigir isso a este grupo de jogadores.
Para ser campeã, a selecção nacional teria de vencer, aplicando a lógica ao quadro já conhecido, a Espanha, o Paraguai, a Argentina (Inglaterra ou Alemanha) e o Brasil (ou Holanda). Individualmente considerado, é um desafio possível ganhar a qualquer destas equipas. Quatro vitórias consecutivas a este nível já me parecem, por outro lado, uma empreitada fora das possibilidades actuais da selecção, que não da ambição dos principais jogadores. No entanto, não me importaria nada de estar enganado.