João D'Ávila encena 'Mater' a partir de Fernando Pessoa
Um bairro típico de Lisboa. Uma mulher. Seis filhos. Até aqui nada de novo. Mas se juntarmos a este argumento uma mãe autoritária e possessiva, seis rapazes de pais diferentes e Fernando Pessoa e os seus quatro principais heterónimos (Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Bernardo Soares), temos Mater.
Esta peça de teatroestreou ontem na Barraca, marcando também a estreia de João D'Ávila como encenador nesta companhia.
"Mater é uma trapalhada pois mostra todas as confusões da vida de uma família lisboeta", revela o encenador, e também autor, deste espectáculo.
A peça encontra-se dividida em quatro actos, cada um representando uma estação do ano (Verão, Outono, Inverno e Primavera, pela ordem), mostrando assim o passar do tempo, da vida e todas as mudanças que vão surgindo.
Cinco dos "filhos da mãe" correspondem a Fernando Pessoa e aos quatro heterónimos, já referidos, e revelam-se psicologicamente através das palavras destes poetas. O filho mais novo, João, é o delinquente e independente da família, mas é também ele quem dá cor e alegria à casa. A estrutura aparentemente sólida desta família começa a desmoronar-se quando João é preso e os filhos começam a questionar a autoridade da chefe da família. A partir daí libertam-se e a mãe acaba por ficar sozinha, "como é natural na vida."
João D'Ávila utilizou a obra de Fernando Pessoa durante vários anos até que começou a escrever por ele próprio, mas o poeta nunca o abandonou, como gosta de referir. Mesmo tendo-se baseado em Fernando Pessoa e nos seus heterónimos para escrever esta peça, o encenador refere que "gostava que o público esquecesse esse facto e vivesse aquelas personagens como elas são, no seu todo".
Relativamente ao espectáculo, quer apenas "que toque as cordas de sensibilidade do público", pois tem humor, sensualidade, erotismo e drama.
Mater está em cena de quinta- -feira a sábado às 21.30 no Teatro Cinearte, em Lisboa, e conta com as interpretações deMaria do Céu Guerra, Gil Filipe, Pedro Borges, Pedro Diogo, Sérgio Moras, Ruben Santos e André Nunes.