Joan Baez, uma voz firme em todas as frentes
Se as lógicas do desgaste, do cansaço e da desilusão com o devir do mundo fossem regras supremas, talvez Joan Baez já se tivesse remetido ao silêncio. Afinal de contas, esta mulher, hoje com 74 anos, marchou lado a lado com Martin Luther King na época em que o conflito racial norte-americano se traduzia na luta por uns polidos e eufemísticos "direitos civis". Nada disso: neste século, a antiga namorada de Bob Dylan, com quem formou o casal perfeito da música folk, subiu ao palco com Bruce Springsteen para cantar a reivindicativa "Pay Me My Money Down", serviu de convidada-surpresa numa festa de homenagem a Vaclav Havel, presidente da República Checa, seu devoto admirador, cantou nos funerais de Lou Rawls, seu colega de profissão, e de Steve Jobs, o génio da Apple, com quem manteve uma intensa relação amorosa na década de 80, ligação desfeita pela discordância face à hipótese de terem filhos: ele, aos vinte e poucos, queria aquilo que Joan, mãe de Gabriel desde 1969, considerava um capítulo encerrado.
Veja aqui uma das suas atuações:
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Em todas as canções a que aplicou a voz cristalina e contagiante, Joan Chandos Baez fez-se ouvir e sentir pelas causas, também elas sujeitas a um aggiornamento: se a oposição à guerra do Vietnam estará entre as mais marcantes, o finca-pé no respeito pelos direitos humanos surge entre as mais duradouras - um bom sinal para a protagonista, um mau sintoma do andar do mundo -, tanto mais que a cantora se tornou militante da Amnistia Internacional em 1970, sendo vital para o crescimento da organização nos Estados Unidos. Depois, basta unir os pontos e perseguir a sua lógica: participou das campanhas contra a pena de morte, pelos direitos de homossexuais e lésbicas, apoiou os protestos do povo iraniano (2005), dedicou-se às batalhas ecológicas, assentou praça contra a guerra do Iraque, juntou-se aos que denunciam a pobreza. Apoiou, presencialmente, a campanha presidencial de Barack Obama e integrou o elenco de um concerto que serviu de "sinal exterior" ao movimento Occupy Wall Street, contestatário dos "mercados", das agências de rating e do descontrolo financeiro.