Jô Soares quer gravar programa em Lisboa
Apaixonado por um bom "bate-papo", mestre na hora de ouvir. Comediante e ator, apresentador de televisão, escritor, encenador, músico, pintor. Artista na sua essência, Jô Soares, homem de mil ofícios, traz no sangue um amor maior: a comédia. "Em tudo o que faço, a minha principal ferramenta é sempre a mesma: o humor", confessa o humorista e apresentador de televisão brasileiro em declarações exclusivas à Notícias TV.
Carioca nascido a 16 de janeiro de 1938 no Rio de Janeiro, Jô Soares, que começou a trabalhar em 1970 na Rede Globo e que apresenta por esta altura O Programa do Jô, em exibição de segunda a sexta-feira na TV Globo Portugal, admite ter um sonho que gostava de realizar: conduzir uma emissão especial a partir de Lisboa.
"Há muito que está nos nossos planos conduzir um programa especial a partir de Portugal. A realização depende apenas da emissora", adianta o ator e autor de programas televisivos que se popularizou na década de 70, em Portugal, com o programa de sátira Planeta dos Homens.
Jô Soares, de 74 anos, é, como assume o próprio à NTV, um eterno fã da capital portuguesa. Da gastronomia à literatura, sem esquecer a simpatia natural dos portugueses. "A minha visão sobre Portugal é sempre de maior carinho, inclusive pelo afago com que sempre sou recebido pelos portugueses", elogia o comunicador que continua a fazer rir o Brasil e Portugal. Assegura que a visão dos brasileiros sobre os portugueses é de total admiração e respeito. "Do meu ponto de vista, quanto mais conhecemos Portugal e os portugueses, mais os amamos", diz o comunicador.
Jô Soares fez uma passagem por Lisboa há dois anos, para protagonizar o espetáculo Remix em Pessoa, no Teatro Villaret, em Lisboa. Declamava poemas do poeta modernista português Fernando Pessoa. Ainda em criança, o apresentador de televisão era já um curioso por letras e poemas. "Quando frequentava o colégio interno em Petrópolis, ia para os pés da minha cama e procurava uma réstia de luz vinda das janelas... E ficava a ler até altas horas de madrugada. O diretor do colégio apanhava grandes sustos comigo e dizia-me: 'Vai dormir, poeta!' Incrivelmente, a minha primeira alcunha não era gordo", confessava, em 2009, Jô Soares em entrevista à jornalista e apresentadora de televisão Marília Gabriela.
A ideia de fazer uma emissão de O Programa do Jô em Lisboa está ainda "na gaveta", mas Jô Soares mantém-se há largos anos atento à realidade cultural e artística portuguesa. Por cá, são muitos os artistas que o admiram. Joaquim Monchique, por exemplo, não tem dúvidas: "Ele é um dos meus ídolos. Tinha apenas 12 ou 13 anos quando comecei a ver o programa dele. Foi uma da pessoa que me influenciou na minha juventude a seguir esta profissão", admitiu à Notícias TV.
Fernando Mendes, que partilha com o brasileiro os prazeres do riso e da mesa, diz que "Jô é um humorista muito inteligente". "Basta ele soltar duas piadas e põe logo uma plateia a rir", refere. Já Manuel Marques elogia a veia de comunicador de Jô Soares: "Ele é um especialista em talk shows. É um comunicador nato", sustenta.
Depois de já ter recebido em estúdio portugueses de peso como as fadistas Mariza e Ana Moura e o escritor José Saramago, entre outros, o apresentador brasileiro prepara-se para receber no seu estúdio, em São Paulo, o ator, realizador e comediante português Nicolau Breyner. O encontro entre os dois, como anuncia Nicolau Breyner, 71 anos, à Notícias TV, deverá acontecer dentro de dois meses. "Jô Soares é um homem de talento, muito versátil. A minha admiração por ele confunde-se com a nossa amizade", sublinha, acrescentando que o seu humor é "apaixonante".
O último português recebido por Jô Soares, no fim de março, foi o humorista Ricardo Araújo Pereira, dos Gato Fedorento. A Notícias TV tentou chegar à fala com RAP, que se encontra em digressão pela América do Sul, mas não foi possível até ao fecho desta edição. Já Herman José, por muitos considerado o maior humorista português e que tem também uma longa carreira em talk shows, preferiu não fazer comentários à NTV sobre o seu colega brasileiro.
Perante a variedade de humoristas que conheceu em Portugal, Jô Soares hesita na hora de escolher o seu preferido. "É muito difícil dizer quem é o melhor nessa profissão. Dos que conheço ou conheci, Raul Solnado, Nicolau Breyner e toda a turma dos Gato Fedorento, destacando o Ricardo, que conheci pela Internet", defende, em exclusivo à Notícias TV.
Jô prefere, porém, não enumerar quais as individualidades portuguesas que quer ainda entrevistar em O Programa do Jô: "Como o meu programa é muito ligado à atualidade, não me atrevo a citar alguém."
Jô Soares estreou no dia 9 de março de 1981, no Brasil, Viva o Gordo, programa cómico que chegou à televisão portuguesa e fez dele um artista muito popular no País. Viva o Gordo esteve seis anos em exibição no Brasil e foi um estrondoso sucesso. Personagens como o Capitão Gay estão ainda vivas na memória de muita gente. Jô Soares vestia-se de cor-de-rosa e repetia o bordão: "Cansei!"
"Foram tantos os papéis que interpretei e criei desde o início da minha carreira na televisão que quando ultrapassei a marca dos 100 parei de contar", afirmava em entrevista o apresentador e ator à Rede Globo.
Aos papéis que interpretou juntam-se as personagens a que deu corpo na quase dezena de livros, desde que começou a escrever, em 1995. Escreveu, entre outros, dois romances: O Xangô de Baker Street e O Homem Que Matou Getúlio Vargas. O primeiro foi adaptado para cinema em 2001 e Jô Soares participou como ator no filme.
Jô também faz da pintura uma área de atuação. Estreou-se nas artes plásticas, em 1966, com uma exposição individual em São Paulo. Desde então tem participado em várias exposições, entre elas a 9.ª Bienal de São Paulo.
Estudou para se tornar diplomata como o pai, mas foi também no cinema que veio, mais tarde, a descobrir uma nova aptidão artística. A primeira participação num filme, O Homem do Sputnik, acontece quando tinha 20 anos. Em 1975 vai mais longe e atreve-se no papel de autor do argumento de uma produção cinematográfica, o filme cómico O Pai do Povo.
Por isso, à Notícias TV, o apresentador de televisão Jô Soares, com identificação no bilhete de identidade como José Eugénio Soares, é perentório quando questionado se algum dia tem intenções de se retirar do ativo. "Eu? Reformar-me? Nunca."