Jesus e Guttmann

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A julgar pelo que se ouve a alguns benfiquistas do inner circle do presidente - e parecem ser tantos -, Jesus foi apenas tolerado no Benfica, não fez nada de extraordinário, não era considerado homem da casa pelos homens da casa, era alguém que aturavam porque tinha que ser. Estava cheio de defeitos, como homem e treinador. Ou seja, o Benfica deu à saída de JJ um lado psicológico que não ajuda o clube.

Para já, isso facilita muito este seu regresso à Luz: não tem que sentir pele de galinha - não é muito de a ter - e vai agir como um profissional. De resto, considera-se o cérebro e já antes, na Supertaça, não hesitou em utilizar mind games para tentar ganhar alguma vantagem. E para mostrar que tinha mesmo mudado de lado. Ou seja, teve uma resposta psicológica.

Esta será a segunda vez em pouco mais de três meses que Jesus vai defrontar o seu ex--clube - na verdade, a sua ex-equipa, porque quase todos os jogadores já lá estavam em junho passado. Outro dérbi está já agendado, em Alvalade, para a Taça. Claro que amanhã é na Luz e é diferente. (Mas, já agora, um parêntesis: estas escaladas verbais não têm grandes consequências em termos de violência entre adeptos - os maiores problemas que houve não foram em ocasiões como esta, em que toda a gente está mais atenta. )

Para os adeptos benfiquistas, Jesus está destinado a ficar para a posteridade como ponto de fixação do sumo desprezo pela traição imperdoável (o FC Porto teve Béla Guttmann, que foi para o Benfica em 1959 por causa do "clima", o que só foi resolvido quando o húngaro voltou ao Porto, já quase cego, sem resultados). O processo judicial que o Benfica anunciou ao antigo treinador vai abundar nessa identificação de Jesus como o traidor da causa. Mas o traidor só é verdadeiramente odiado porque, antes de fazer mal, fez bem...

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