Jesuítas juntam ateus, agnósticos e crentes para discutir o futuro

Mais 600 pessoas juntaram-se em Lisboa para ouvir experiências de vida de Ricardo Araújo Pereira e Joana Carneiro.
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Fez a primária num colégio de freiras vicentinas, foi aluno de franciscanos e jesuítas até se licenciar... na Universidade Católica Portuguesa. Mas o guionista Ricardo Araújo Pereira continua a ser um "ateu empedernido", nas palavras do padre Tolentino Mendonça, ou um "santo ao contrário", nas suas. E era ontem o único ateu entre dois padres e uma crente, a maestrina Joana Carneiro, na sessão de abertura do XVII Encontro Fé e Justiça, promovido pelos jesuítas.

A conferência, este ano com o tema "Portugal abaixo dos 40", juntou ontem mais de 600 pessoas, sobretudo jovens, no Colégio São João de Brito. E apesar de ser promovida pelo Centro Universitário Padre António Vieira, o objectivo era mesmo juntar crentes e não crentes para partilhar experiências de vida e falar sobre o futuro.

Com o público distribuído pelas cadeiras, escadas e chão, Joana Carneiro, Ricardo Araújo Pereira e Tolentino Mendonça falaram sobre o que fazem. E não foi tarefa fácil para a maestrina. Joana Carneiro, que nos últimos 15 anos dirigiu algumas das melhores orquestras do mundo, explicou que toca um "instrumento extraordinário", composto por humanos: a orquestra. "Confiança, fé e imaginação" são as receitas para um futuro que será "com certeza, muito bom", diz.

Se não for, teremos pelo menos o consolo de nos podermos rir dele. É esse, afinal, o trabalho de Ricardo Araújo Pereira. "O meu trabalho é pensar pela negativa", começou por explicar o humorista. Mas a caricatura acaba por nos devolver a realidade com mais claridade, concluiu.

O padre Tolentino Mendonça, por sua vez, partilhou a sua visão sobre a necessidade de construir um olhar consciente dos seus limites e cada vez mais aberto para complexidade do mundo. Para os cristãos, este é um "momento de recomposição": "Nos últimos cinco anos, a prática dominical desceu quase 50% e 85% das crianças que iniciam a catequese não terminam o processo de iniciação c cristão, com o crisma". Por isso, perguntar se o catolicismo vai desaparecer não é tão disparatado como pode parecer, defendeu. "Mas é também uma oportunidade", nomeadamente para "trabalhar ao lado dos homens e mulheres do nosso tempo", referiu.

Nesse espírito, na sessão de encerramento, a iniciativa "História do Futuro", da CUPAV e a Rádio Renascença atribuíram o Prémio Vieira à irmã Rita Cortez, da Congregação das Escravas do Sagrado Coração de Jesus. A religiosa coordena o Projecto TASSE, na Quinta da Fonte da Prata, bairro social no Ribatejo, que visa a promoção da inclusão escolar da população entre os 7 e os 18 anos.

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