Jelena Ostapenko entrou neste ano em Roland-Garros como a 46.ª jogadora da hierarquia mundial do ténis feminino, sem nunca ter passado da terceira ronda de um torneio do grand slam e sem qualquer título do WTA (principal circuito feminino) ainda no currículo. Aos 20 anos, não passava de uma perfeita desconhecida para o grande público. Ontem, a jovem letã saiu do court central Philippe Chatrier com a taça Suzanne Lenglen, atribuída às campeãs femininas do mais famoso torneio de terra batida, completando um dos mais surpreendentes contos de fada da história do ténis..Quando, a meio do segundo set da final de ontem, Ostapenko perdia por 3-0, depois de já ter cedido o primeiro parcial para a romena Simona Halep por 6-4, parecia certo que a bela aventura da letã tinha chegado ao seu limite e que Halep iria finalmente chegar ao seu primeiro título de grand slam e a número um mundial. Mas tratava-se, afinal, de aumentar a carga dramática para um final feliz nesta história da nova Cinderela do ténis feminino. Ostapenko foi buscar forças que se julgava já não ter e pro- tagonizou uma épica reviravolta, acabando por vencer por 4-6, 6-4 e 6-3..E assim, ao fim de duas semanas de sonho, a tenista letã passou a ter nada mais nada menos do que Roland-Garros como a primeira conquista da carreira, imitando um feito que não acontecia desde que o brasileiro Gustavo Kuerten surpreendeu tudo e todos também aos 20 anos, e também na terra batida de Paris, em 1997, ganhando aí o seu primeiro título, precisamente no dia (8 de junho) em que em Riga nascia uma menina chamada Jelena Ostapenko.."Sim, já conhecia a história, falaram-me disso ao longo dos últimos dias, do facto de eu ter nascido no dia em que Gustavo Kuerten ganhou o seu primeiro título em Roland-Garros. Não tenho palavras, é o meu sonho. Estou tão feliz", disse, ainda no court central, a tenista que se tornou a primeira mulher não cabeça-de-série a ganhar o torneio parisiense desde a britânica Margaret Scriven em 1933, bem antes do começo da Era Open (1968), quando o torneio ainda era conhecido como os Campeonatos Franceses..Além disso, Ostapenko é também a primeira letã a ganhar um major, a campeã mais jovem de Roland-Garros desde 1997, a mais jovem a ganhar um grand slam desde Kuznetsova no US Open de 2004... "Ainda não consigo acreditar. Acho que só vou realizar o que isto significa daqui a uns dias ou semanas. Cinco ou dez minutos antes da final estava um pouco nervosa, tal como a meio do segundo set, quando estava a perder. Mas depois pensei que não tinha nada a perder, por isso ia dar tudo e aproveitar o momento", referiu a sorridente Jelena, antiga campeã júnior de Wimbledon, que até aos 12 anos repartiu o tempo entre o ténis e as danças de salão, uma coabitação que a letã considera tê-la ajudado na movimentação em court..Agora, abre-se um novo mundo para Ostapenko, que deixa de ser uma perfeita anónima para se tornar o centro das atenções. O que ela espera que ajude pelo menos a tornar o ténis um desporto "mais popular" na Letónia: "Penso que provavelmente vou ter bastante atenção quando regressar, sim.".Com a vitória em Roland-Garros, Jelena Ostapenko vai saltar até ao 12.º do ranking mundial e rechear a conta bancária com cerca de dois milhões de euros, o dobro de todo o prize-money que tinha conseguido na carreira desde 2012. "É tudo espantoso", diz ainda incrédula a nova Cinderela do ténis feminino.